Demorei, né?! Eu queria que fosse um post tão lindo, tão especial, que nada do que eu pensava ou escrevia eu achava bom! Aí, eu resolvi parar de enrolar e deixar o coração falar. E desde quando o coração fala de corrida? Desde quando esse é o maior amor da minha vida!
Meu dia começou numa madrugada, tipo 4h30 da manhã. Eu gravei um snapchat falando que queria fazer um vídeo maravilhoso, mas eu só sentia sono. Não dormi à noite de ansiedade. Tomei café, me troquei e gravei, no espelho da casa da Vivi, um vídeo idiota, da “dancinha de quem vai correr”, carinhosamente comentado pelos amigos, em todas as redes sociais, com coisas do tipo “Não bate bem”, pra pior! É muito amor! (Se vc não viu, ta lá no instagram, ou aqui https://www.facebook.com/daniellenobileporumavidasaudavelsobrerodas/videos/vb.222842451253982/480201232184768/?type=2&theater – se for pra zoar, faça na minha cara, pra gente rir junto :p )
Tem que ser muito amiga, pra chegar no local da prova quase 2h antes, só por causa da handbike, né?! Pois é! A Vivi fez isso! Ela e o Cadu. Tenho amigos que valem ouro. Aí, veio o Edu, pra me ajudar a regular a hand. O suporte de pé tava desmontado, o velocímetro não tava funcionando… Ele e a Fabi ficaram me ajudando, e logo foram chegando Maurício, Sindo, Marcolinhos, Dani… a turma foi aumentando! Dei várias voltas ali na avenida pra tentar regular o suporte, mas meu joelho esquerdo tava pegando num parafuso do freio. Fizemos da melhor forma, pra pegar só nas curvas fechadas (eu já não aguentava mais tentar…tava uma pilha!).
Alinhamos pra largada, Dani, Mauro, eu e outros deficientes. O pessoal da Iguana veio checar se estava tudo pronto e…lá fomos nós! Já na largada, todo mundo resolveu entrar na minha frente. Quem era cadeirante e quem não era. Quase atropelei um visual e seu guia! Perdi velocidade ali e o coração veio na boca. Mas logo ali na frente, ficamos só eu e o Mauro. Na primeira subida, a surpresa! Minha coroa não queria mudar! Lembram daquela subida que eu falo que é a subida do inferno? Aquela que eu acabei indo de ré na prova de 2014? Foi bem ali! Imagina meu desespero. Pelo menos consegui colocar na coroa do meio e subi morrendo. Nessa hora, eu o Mauro, lado a lado morrendo. E eu vi meus sachês de gel caindo do meu bolso. E não podia fazer nada se eu que tinha colocado metade pra fora, pra ficar mais fácil de puxar… inteligeeeeeente! No meio da subida, um moço (acho que era deficiente de membro superior, porque corria sem guia) nos passou. Depois da subida, troquei a coroa mudando a correndo com a mão. E passamos o atleta. Mas eu também não vi mais o Mauro.
O motoqueiro que ia à nossa frente, me ofereceu um gatorade, mas eu falei pra ele que só ia querer gel, que entregam lá pelo km12.. Ele me disse “Vou ficar só mais um pouquinho com você.” Ele acompanharia os atletas que fossem à frente. Continuei, eu e o motoqueiro que virou meu anjo da guarda, até lá pelo km 6 ou 7. Acho que é ali que a gente faz a primeira volta e começa a voltar. Só quando eu comecei a voltar, foi que eu vi os primeiros atletas da elite vindo. Aí eu pensei “vou tentar não deixar eles me passarem até o viaduto”. O viaduto foi a segunda subida. E se eu morri pra ir, eu também ia morrer pra voltar rsrsrs E quando eu estava chegando perto do viaduto, foi um dos momentos mais legais da corrida. Porque, se eu larguei 10minutos antes e to voltando, quer dizer que a maioria dos corredores está indo! E nessa hora é uma festa! É o momento que eu recebo mais força do pessoal. A turma grita, quem me conhece grita meu nome, batem palma, e eu me encho de ânimo pra continuar a prova. E eu realmente recebi muito carinho nessa hora! Fui chegando perto do viaduto, e comecei aquela subida martírio, sem conseguir colocar a coroa leve. Mas, serviu de comparativo pra mim, pois eu soube que, mesmo demorando muito e minha velocidade caindo pra 5 ou 6km/h, eu dei conta de subir. E a galera me animando! Mas na hora de descer, foi um sufoco! O meu motoqueiro e mais o que vinha à frente da elite, foram na minha frente, buzinando alucinadamente, porque eu vinha muito rápido, mas a galera que estava no sentido contrário, não respeitava a faixa e estava subindo pela descida. Ou seja, quase rolaram vários atropelamentos, eu tendo que frear bruscamente pra não passar por cima de ninguém. Tinha gente que subia de cabeça baixa, olhando pro chão e não desviava. Ali virou um pequeno tumulto. Sorte que passou rápido. Mas, na hora de virar à direita pra entrar na USP… um ciclista entrou bem na minha frente, na hora que fiz a curva, e quase causa um acidente. Graças a deus que minha mão não falhou nessa hora e eu consegui frear a tempo!
Entrei na USP e comecei a sofrer um pouco com o asfalto irregular. A handbike ficava quicando sem parar e eu não conseguia pegar velocidade, com medo de virar. Conversei com o Mauro depois da prova, e ele disse que sofreu com a mesma coisa. Passei no tapete dos 10km com 35min. Fiquei feliz demais! Não era meu melhor tempo, porém, em vista das subidas, eu estava dentro do que programei. E pensei que atingir minha meta (entre 1h15 e 1h20) seria fácil e que talvez que conseguisse fazer abaixo disso! aaahhh, bobinha! Gente, do km 10 até o 15, parecia que tinha um elefante nas minhas costas e uma carreta puxando a hand pra trás. Eu simplesmente não rendia e fui ficando muito cansada! Mas ali, eu fui muito bem guardada pelo meu motoqueiro anônimo! Os cones que fechavam o percurso ainda fechavam a rua pros carros não passarem. E eu simplesmente não sabia onde virar, com o sol nos meus olhos e o elefante nas minhas costas. E o moço da moto ia me guiando. Pegou um saquinho de gatorade pra mim e também avisou o moço do gel que eu ia precisar. O moço já ficou posicionado pra eu passar. Como só tinha eu, deu até pra agradecer quando ele perguntou se eu queria que abrisse o gel pra mim!
Quando comecei a voltar, eu vi a elite vindo. Pensei “será que eu vou conseguir não deixar eles me ultrapassarem?” com aquela sensação de espanto dentro de mim. Mas, meu objetivo era me divertir e fazer o meu tempo! Foi pra isso que eu fui. O que viesse seria lucro! Lá pelo km 15, eu ainda brinquei com o motoqueiro “e você, pensando que ia correr com os quenianos hoje! Nunca pensou que iria abrir caminho pra uma aleijadinha! Ainda mulher!” Nós rimos muito e ele foi me guiando no percurso, até que, finalmente chegar no km16 e o elefante descer das minhas costas! No km 18, a gente já estava na reta, e tive um deja vu quando olhei no relógio que fica na avenida. Eu fiz a mesma coisa no ano passado, e calculei a hora que eu gostaria de passar na chegada. Mas, vou falar uma coisa pra vocês: se eu freasse a hand do nada, eu dormiria ali mesmo, no meio do percurso! Me bateu um cansaço e um sono arrebatadores. Força, muié! No km 19, eu vi o Rodrigo, meu treinador de quando eu andava. Ele estava lesionado e foi acompanhar a nossa turma de Ribeirão. Falei meu tempo pra ele e ele ficou todo feliz, gritando “vai que falta pouco”. E ali na frente, estava a Fer tirando fotos, e me zuando.
E quem me esperava agora? Sim! a descidinha feliz e a subidinha do inferno! A última subida da prova. E claro, obvio, lógico que o casal que estava caminhando ali, me passou sorrindo, porque eu tava a 5km/h morrendo! Mas esqueci da parte do morrendo quando acabou a subida e o motoqueiro falou no rádio “6290, 6290. Ela vai ser a primeira”. Chorei! Chorava e sorria. Sorria e chorava. E foi assim que passei pelas poucas pessoas que já estavam do lado de fora do jockey, que me aplaudiram. E foi assim que eu entrei no jockey, sorrindo e chorando.
E quando faltavam 500m, olhei meu cronômetro 1h14! Ia dar pra fazer o tempo que eu queria! Aquelas tartaruguinhas no chão não me deixaram lutar pra fazer 1h14 alto. Mas eu passei sob o pórtico com 1h15! O tempo que eu tinha programado pra mim! E ouvir o locutor chamar meu nome foi muito incrível! Eu só consegui frear e a hand e chorar. Chorar e chorar, porque eu tinha sido a primeira atleta a cruzar a linha de chegada da prova que eu mais amo! Ali eu atingi uma felicidade que eu não sei descrever! 2 anos. Foi o tempo que eu sonhei com essa prova. E mais um ano depois eu fui a primeira a cruzar a linha de chegada! Eu só tinha que agradecer a Deus por ter ficado viva, por estar ali, por ter ganhado minha hand e ter conseguido correr aquela prova e baixado 37minutos com relação ao tempo do ano passado. Não consigo colocar em palavras o que eu senti e o que estou sentindo agora.
Claro que não sou idiota pra achar que fiz o melhor tempo da prova! Assim que eu saí da hand e, com a ajuda da Chris, passei pra cadeira, os quenianos começaram a chegar. Como os deficientes largam antes, descontando esse tempo, os atletas convencionais fora muuuito mais rápidos que eu. Mas isso importa pra você? Nem pra mim! Eles correm com as pernas, são profissionais, estão ali pra fazer a prova da vida deles do jeito deles! E eu estava ali pra fazer a prova da minha vida, do meu jeito. E fiz! Foi meu melhor tempo em meia maratona? Não! Mas foi a minha melhor meia maratona!
Depois que saí da hand, consegui receber o carinho de várias pessoas que estavam ali na chegada, tirei muitas fotos, ouvi muitas coisas lindas, conheci muita gente legal e vi muita gente que eu gosto. Conforme o pessoal ia terminando a prova, eu ia revendo meus amigos, conversando e recebendo feedback de muitas pessoas que assistiram minha palestra, no dia anterior. E vou falar uma coisa: não há preço que pague tudo que eu passei ali!
Muita gente veio me falar que, durante a prova e nos momentos de cansaço, lembrava das minhas últimas palavras na palestra: “Quando estiver cansado, seja minhas pernas e corra por mim.” Muita gente dedicou seus RP pra mim naquele dia! Chorei muito de emoção quando ouvi isso! Como irei agradecer a todos vocês por isso? Jamais poderei! Cada abraço, cada palavra, cada conversa, cada foto, cada grito durante a prova, cada aplauso, foram e são muito valiosos e inesquecíveis pra mim!
O que eu trouxe na bagagem pra casa? Um roxo enorme no joelho, uma medalha linda, um troféu lindo, um monte de recordações pra minha colcha de retalhos da vida. E a certeza de que eu estava no lugar certo, debaixo da linha de chegada, fazendo o que eu mais amo na vida: correr!