Dani Nobile

Danielle Nobile lança blog

Meu nome é Danielle Nobile, tenho 27 anos, sou professora e era corredora há 5 anos.

Já participei de mais de 60 provas de corrida de rua, incluindo duas meia-maratonas Internacional do Rio, Maratona de São Paulo (10km e 25km), duas meia-maratonas de Ribeirão Preto e corri duas vezes 75km Revezamento Bertioga-Maresias, entre outras tantas provas que curti, sofri, chorei, sorri, fiz amigos, subi no pódio, colecionei medalhas e emoções…

Você já teve sua vida mudada em 2 segundos? Eu tive!

Foi no dia 22 de outubro de 2012. Era pra ser um dia normal. Saí cedo pra trabalhar e ia treinar à noite. Mas, nesse dia, minha vida mudou! Capotei o carro 8 vezes e,apesar sair “do liquidificador” (é essa a impressão que eu tive) sem nenhum corte no corpo, eu quebrei uma vértebra na coluna e “fui parar” na cadeira de rodas.

Para muitos, isso é motivo de desespero! Para alguns de meus amigos foi (e ainda é) e para família… Bom, a minha ainda está se acostumando com essa ideia.

Para mim? Bem, na virada de 2011 pra 2012 eu pedi: “Ano novo, vida nova”. E foi exatamente isso que eu ganhei! Uma vida nova, novinha em folha! Para começar de novo! Quando o carro parou de girar e voar, eu renasci! Ganhei uma vida nova, mais calma, mais consciente, mais dolorosa (quem pensa que não sinto dor todo santo dia, está muito enganado!), mais reflexiva…

E essa vida nova é um constante aprendizado. No campo da família, no campo das amizades, no campo do amor, nocampo emocional, no campo físico (pois eu aprendo com meu corpo todos os dias) e no campo dos esportes!

Eu fiquei 5 anos treinando pra fazer minha primeira maratona. Mas, tive que aprender que dá pra correr uma maratona sem andar, porque o esforço que eu estou fazendo todo dia, proporcionalmente, é um treinamento pra uma maratona…e essa é a mais especial da minha vida!

Comecei com a fisioterapia, mas sempre com a cabeça ligada no esporte! Todos que iam me visitar pediam: “Não desista!”. “Desistir? Eu não vou desistir enquanto eu não voltar a correr!” – Essa era a resposta de sempre.

E dentro de mim eu pensava: “Não vou conseguir viver sem endorfina, meu Deus! O que eu vou fazer?” Vamos ver o que eu já sei fazer :Correr? Preciso de pernas. Pedalar? Preciso de pernas (ao menos eu pensava assim). Nadar? Sim!!!!!!!! Essa era a solução! Comecei a torrar a paciência do médico para me liberar para natação. Logo que fui liberada, já caí na piscina. Primeiro com a ajuda do meu pai. Agora, também, com a ajuda de professores desse esporte.

Muitos me perguntam como eu consegui me acostumar com essa ideia, com a nova vida e a nova realidade, tão cedo.

Alguns levam meses, até anos, para aceitar a nova perspectiva (sim, porque sentada na cadeira, eu vejo o mundo por um novo ângulo!). Eu simplesmente não sei! Eu apenas enxerguei uma possibilidade de viver, não sobreviver! Sobreviver, apenas, é muito chato! Eu quero viver intensamente, cada dia, passear, trabalhar, realizar, ajudar, viajar, nadar, andar de handbike, completar a São Silvestre de novo (correndo com os pés ou com a cadeira, prometi para 2013 e vou cumprir!) fazer tudo que eu aprendi que posso.

Também não deixei a vaidade de lado, não deixo me arrumar, cuidar do cabelo e dar unhas e cuidar da pele (eu mesma faço tudo em casa)! Um dia desses, eu estava me arrumando, e uma pessoa próxima a mim disse: “Acho ridículo você se maquiar pra sentar numa cadeira de rodas.” Ridículo é eu sair de casa de ridícula!hahaha Eu me arrumo sim, passo maquiagem todos os dias, desde que eu estava no hospital (graças às amigas que me supriram), mesmo que for pra ficar em casa! Não é por que sou cadeirante que vou ficar feia, descuidada ou obesa!

Sabe, eu tenho dois meses e pouquinho de lesão! Sou atleta (ainda sou, no coração!) e não dou conta de ficar parada chorando, sofrendo! Eu nunca fui assim! Tem alguns momentos que eu choro, ou por estar com dor, ou por estar sozinha, ou por sentir vontade de correr…mas não pela minha situação! As pessoas não sabem que sentimos dor. Pensam: “ah, ela não mexe a perna!”, mas não sabem que junto vem um monte de outras coisas, como espasmos, cãibra, dor nas costas (a minha parece uma gelatina ainda, sem firmeza), dos nas mãos, nos braços, problemas na bexiga, e por aí vai… Mas nada disso vai me parar também! Nem vai me fazer deixar de sorrir!

Quando o médico foi se apresentar a mim, na UTI, eu disse à ele: “Doutor, soube que você e sua equipe são os melhores. E eu sou bem teimosa. Então acho que vai dar muito certo isso!” E sou teimosa mesmo! Não serei como aqueles cadeirantes que fica chorando o dia inteiro, se lamentando da vida! Eu nunca vivi essa fase! Isso nunca passou pela minha cabeça! Eu simplesmente sou otimista! Eu tenho o plano A e o plano B. O plano A, claro, é voltar a andar e correr. O plano B é ser nadadora e encher mais um porta-medalhas (dessa vez, não com medalhas de corridas, mas de natação adaptada!)

Eu descobri que há uma gama de possibilidades de esporte e vida, para cadeirantes! O que não dá é ficar deitado na cama o dia inteiro, vendo a vida passar, sendo sedentário e esperando um milagre cair do céu! Você tem que “rodar” atrás de algo que você goste! Se você não sabe do que gosta, vá lá, tente e veja se gostou ou não… Se não gostou, tente outra coisa!rs

Eu ainda sou muito dependente das pessoas (especialmente dos meus pais, que cuidam de mim diariamente) para tudo, pra me colocar na piscina, no chuveiro, pra me trocar, me trazer comida ou me levar aos lugares. Isso porque tenho pouco tempo de lesão e ainda não fiz reabilitação. Dentro de algumas semanas, espero conseguir uma vaga no Hospital Sarah Kubitschek, e lá aprenderei a me virar sozinha e ser mais independente! Sim, pois descobri que a falta de pernas (ou, no meu caso, a presença delas, mas só de enfeite) não é empecilho para levar uma vida feliz e normal.

Graças a internet descobri um milhão de amigos cadeirantes, que saem, passeiam, trabalham, levam uma vida normal.

Muitos são completamente independentes. Outros precisam de auxílio para algumas coisas. Mas não é porque tem um acessório a mais que são mais ou menos felizes. Na verdade, acho que alguns são mais felizes que alguns andantes (normal é uma palavra muito pequena pra colocar aqui). Há pessoas que andam, mas tem doenças psicológicas, como depressão e síndrome do pânico, e ficam presas dentro de si mesmas, do medo, da angústia. Isso é muito pior que uma limitação física! É nosso cérebro que nos move, não nosso corpo!

Na minha vida nova, como um bebê de dois meses e meio que sou, eu não paro de aprender. E espero que nenhum de vocês pare! 2013 é um ano de esperança e expectativa para mim! Esperança de ir pro Sarah! Esperança de voltar a andar!

E se eu não voltar, esperança de aprender a viver (nunca sobreviver,) da melhor maneira possível! E Deus colocou na minha vida pessoas maravilhosas que estão em ensinando a fazer isso!! Eu também aprendi a sorrir (mais? será possível?) até pras dificuldades! Afinal, lágrimas, depressão e mal-humor não curam doença e não resolvem problema, só pioram a situação!!!

Meu lema e meu conselho pra 2013? Já disse uma vez, mas não canso de repetir: Vamos viver! Vamos sorrir! Quem fica parado é poste: então, levante essa cabeça e dê a volta por cima!

Com esse lema em mente, recebi o convite do Harry pra escrever e compartilhar minhas emoções e sensações. Confesso que tive um turbilhão disso tudo de uma só vez! Senti-me honrada, mas com medo, receosa… nossa, um monte de coisa junto!

Meu objetivo aqui é compartilhar minhas novas experiências no mundo dos esportes adaptados, tanto enquanto pesquiso, quanto enquanto pratico. Assim, quem não conhece, poderá conhecer. Mas, meu objetivo principal é incentivar os “cadeirudos” e “cadeirudas” que estão lá, desanimadinhos, na cama ou no sofá, a se mexer um pouquinho e experimentar coisas novas!

 

Texto originalmente postado no blog Mãos pelos pés, no Running News