Dani Nobile

Eu e o basquete

Bem, prometi e agora tenho que cumprir! No último post prometi que eu falaria sobre o basquete adaptado. Então, here we go!

Primeira dica pras meninas cadeirudas que pretendem experimentar esse esporte: Se você tem frescura com unhas quebradas e é encanada com esmalte descascado, não jogue basquete na cadeira de rodas! Destrói suas unhas! Como eu não ligo pra isso (é só ir lá, lixar o que sobrou – das primeiras vezes eu quebrei TODAS as unhas – e pintar de novo), tenho adorado esse novo esporte!

É um esporte bem rápido, gostoso, estimula o espírito de equipe e treina sua agilidade com a cadeira.

Está certo que, no Sarah, jogamos só pra experimentar, movimentarmo-nos, por isso, a diversão é garantida! Ainda não tive a oportunidade de assistir a uma partida oficial. Creio que deve ser bem mais tenso. Mas, para quem deseja ingressar em um esporte adaptado, acho a opção ótima!

Utilizamos uma cadeira especial, com diferente cambagem nas rodas (as rodas não ficam na vertical, como nas cadeiras que utilizamos no dia-a-dia. Elas são posicionadas em um ângulo menor que 90º. Procurei na internet, e ainda não encontrei o ângulo).

Bom, mas para uma tetra como eu, nem tudo são flores. Eu não tenho força suficiente no braço (ainda) para arremessar a bola e alcançar a cesta. Já melhorei! Depois de jogar 4 vezes , já consigo acertar a redinha da cesta! Já é um avanço!

Tá, agora, vamos às regras do jogo! A cada dois toques na cadeira, o jogador deve quicar, passar ou arremessar a bola. Aí, quando alguém da mais de dois toques a gente grita “faaaaaaalta”. Isso não deve acontecer num jogo oficial! Com certeza não acontece! As dimensões da quadra e a altura da cesta são as mesmas do basquete olímpico. Estão vendo por que não consigo alcançar a cesta? É alto pra caramba!

Na primeira vez que jogamos, o professor deixou a gente se arrebentar. Calma! Ele deixou as disputas por bola serem bem…hum…animadas! Podíamos trombar as cadeiras e isso fez o jogo ficar divertido e rápido (no melhor estilo carrinho de trombada. Eu estava adorando). Porém,a partir da segunda vez que jogamos, foi-nos esclarecido que trombar a cadeira intencionalmente (eu fiz isso pra caramba na primeira vez) também é falta! Você precisa, no mínimo, tentar frear a cadeira. Então, lá vou eu, tem que defender a bola, tentar roubar do adversário, contar quantos toques no aro você deu pra não ser falta, lembrar de frear a cadeira pra não trombar com ninguém, arremessar satisfatoriamente para seus companheiros de equipe e (E!) tentar acertar a cesta! Ufa! Mas eu adoro!

Outra coisa que acontece conosco e eu não sei se acontece nos jogos oficiais é a nossa posição no jogo! Depois que já tinha jogado várias vezes (na verdade, to tentando contar e acho que foram mais de 4 vezes!), um menino debutando no basquete de cadeira, veio perguntar:”Dani, você é boa no ataque ou na defesa?” e eu disse :”na defesa”. Ele começou a dizer que eu tinha que me posicionar não sei onde na quadra, que ele ia jogar na frente…Tinha outro amigo na conversa. Olhamos um pra cara do outro e eu perguntei:”Você já jogou basquete na cadeira?”. Diante da resposta negativa do novo colega, meu amigo soltou: ”irmão, não dá tempo de nos separarmos por posição, não. O jogo é muito rápido.” Realmente, não sei como funciona isso num jogo oficial (quando eu assistir a um, eu conto tudo), mas no nosso, a questão de movimentação é bem rápida! De repente, você está embaixo da cesta de defesa e menos de um minuto depois, debaixo da cesta do ataque.

E eu não tenho medo de bolada, nem de me entrincheirar com os meninos na disputa de bola! Vou enfiando a cadeira no meio deles, e borá tentar roubar a bola e ser feliz!

Agora, vamos à história do basquete sobre cadeira. O basquete em cadeira de rodas começou a ser praticado nos Estados Unidos, em 1945.

Os jogadores eram ex-soldados do exército norte-americano feridos durante a 2ª Guerra Mundial. A modalidade é uma das poucas que esteve presente em todas as edições dos Jogos Paralímpicos. As mulheres disputaram a primeira Paralimpíada em Tel Aviv, no ano de 1968. O basquete em cadeira de rodas foi a primeira modalidade paralímpica a ser praticada no Brasil, em 1958. Os principais responsáveis pelos primeiros passos foram Sérgio del Grande e Robson Sampaio. Nos II Jogos Parapan-americanos, em Mar Del Plata, em 2003, a seleção brasileira masculina conquistou uma vaga para Atenas 2004 retornando a uma edição de Jogos Paralímpicos após 16 anos de ausência. Já a seleção feminina participou apenas dos Jogos de Atlanta 1996. No Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, o Brasil conquistou o 4º lugar no feminino e o 3º no masculino. (http://www.cpb.org.br/modalidades/basquetebol/)

E, como em qualquer esporte adaptado, também há classificação funcional! Para quem quiser saber mais, inclusive sobre regras e campeonatos, há também o site da Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas (CBBC), – http://www.cbbc.org.br/

Bem, vim pra Brasília sabendo que há um time de basquete na minha cidade. No início, não foi algo que me apeteceu. Porém, agora confesso que eu até gostaria de ir uns dias pra me divertir e dar umas risadas nos treinos. E se, além da natação não encontrar mais nenhum esporte praticável na minha cidade, posso tentar o basquete . Isso porque minha paixão está nas águas mesmo. Mas isso ficará pros próximos posts. Sim, no plural! São dois esportes. Um post só não dará conta de tanta emoção!

Texto originalmente postado no blog Mãos pelos pés, no Running News