Dani Nobile

Minha primeira corrida de cadeira

Sábado foi um dia muito especial pra mim. Foi minha primeira corrida de cadeira! Após 1 ano, 4 meses e 25 dias sem participar de nenhuma prova. Mas deixem-me contar, primeiro, de onde surgiu a ideia de participar dessa corrida.

Desde meu acidente, eu já vinha pensando em participar de corridas com a cadeira. Afinal, muito atletas fazem isso. Porém, pesquisando e conversando com amigos, descobri que as organizações de corrida já não permitem a participação dos cadeirantes com nosso meio de locomoção diário. Sim, nossas cadeiras do dia a dia já não são mais permitidas por motivos de segurança. Agora, só participam de provas as cadeiras de atletismo (muito caras) e as handbikes (mais baratas e permitidas também em provas de ciclismo. Ou seja, meu sonho de consumo “maior do mundo inteiro”). Porém, eu não tenho nem uma, nem a outra. Então, eu evitava até entrar no facebook aos domingos, dia em que meus amigos corredores postam suas fotos de corrida Brasil afora. Ver essas fotos e não poder estar lá ainda me faz chorar, pois era e ainda é a coisa que eu mais gosto de fazer.

Semana passada, um professor da academia, o Eduardo Vicentini, postou um vídeo sobre uma corrida que a academia faria na Hípica aqui de Ribeirão. Conversei com ele e com o Rodrigo Inouye, meu ex-treinador e outro organizador da prova, e permitiram que eu participasse com meu Porsche azul, minha TiLite. Eles ficaram super animados e foi quando eu fui fazer o meu primeiro treino na pracinha. Mas claro que eu não iria contar pra vocês o motivo do treino. Era surpresa!

Pois bem, sábado de manhã, a Dri passou aqui pra me pegar 7h e partimos pra Hípica, rindo e conversando, relembrando vários momentos juntas (a Dri dormia comigo no hospital. Dormiu lá comigo na noite do aniversário dela, inclusive). Chegamos no local da prova e, apesar de contarmos com 90 inscritos e não ser uma prova totalmente de rua, aquele clima todo já me deixou toda feliz. Rever tantos amigos, abraçar, tirar fotos…Meu Deus, que saudade que eu estava disso!

Na verdade, eu e meus amigos estávamos tão felizes por eu estar ali (fiz surpresa pra muitos), que eu não me continha. Calcei minhas luvinhas, ouvimos as instruções dos organizadores, e partimos pra foto oficial.

Todos posicionados pra largada. Aí vem a minha parte difícil! O trajeto era de 5 ou 10km. Porém, parte da volta de 5km (pra 10 eram duas voltas), era desse cascalho que vocês veem aí na foto, que fica em volta da pista de Polo. O que me restava? Dar duas voltas na pista de asfalto, porque tentamos andar no cascalho e, nem empinada tinha jeito. A certeza era uma só, escorregar, ralar os joelhos e sair dali parecendo o dia que eu caí de bicicleta no paralelepípedo, quando tinha uns 7 anos. Isso se eu não tivesse que ligar pro meu pai, emergencialmente consertar meu sorriso faltando pedaço. Melhor não! Optamos pelas duas voltas no asfalto.

Obviamente que, assim que foi dada a largada, eu fiquei pra trás (olha eu ali no cantinho)! Mesmo o asfalto, tinha muito burado, e era mesmo difícil pegar velocidade com a cadeira. Tudo bem. Fiquei sozinha, mas eu estava ali.

Nessa primeira volta, eu realmente me senti sozinha mesmo. Não tinha nenhum corredor pra trás. E um filme começou a passar na minha cabeça. Várias corridas que eu participei. A primeira delas, com minha amiga Isabela, quando a gente nem sabia se ia terminar. A primeira vez que fui pra SP, correr a dos Bombeiros e conhecer tanta gente que faz parte ativamente da minha vida até hoje, como a Marina, o Michel, o Wlad…e depois deles ainda vieram tantos amigos importantes, a Dri, a Simone, a Ve..Nossa, não dá pra listar todo mundo que passou pela minha cabeça naquela hora. Aí pensei na primeira meia maratona, nas outras 5 que vieram depois, nas viagens pra correr, nos treinos insanos nos finais de semana. Nos pódios. O último pensamento foi, claro, a última prova. Eu, Paty e Carol, correndo desenfreadas por asfalto, areia, grama, o que vinha pela frente. O Gabi com água e gatorade a postos quando chegávamos no carro. A nossa chegada, as 3 juntas, a última medalha. Não vou mentir, não. Chorei muito pensando nisso tudo. Enquanto isso, desviava daquela buraqueira lascada e só tinha uma vontade: levantar daquela cadeira e sair correndo, com o vento batendo no rosto.

Até que olhei pra ela: a subida! Jesus! Precisava de uma subida desse tamanho? Não tinha uma maior, não? O professor que estava marcando o percurso, falou assim: “Quer que eu te empurre?” Nem a pau, Juvenal! Eu só olhei pra ele e disse “Não precisa, não. Eu vim pra fazer sozinha. Mas se precisar, eu te grito.” Enquanto isso eu subia e pensava “eu só posso estar louca!”  E fui, né?!

Bom, tinha até uma lombada no meio da subida. O professor, veio correndo pra ver se eu precisava de ajuda ali. E depois foi subindo comigo, até o pico do Everest. Ai meus braços. Lá em cima, tinha um senhor. Eu brinquei com ele, se estava me esperando. Ele não tava dando conta de correr. Aí, ele resolveu meu acompanhar. Mas tinha uma descidinha agora. Coitado! Botei o homem pra correr 🙂

Ali sim, o ventinho batendo no rosto, que delícia! Mas, segura peão! Tente descer uma ladeira leve, toda cheia de buracos, pior que queijo suíço. Um descuido pra cantar aquele versinho do funk “Chão, chão, chão.”  Pena que a descida passou rápido. Agora, uma reta, onde eu cantava aquela música (acho que dos Havaianos)  “Vem que vem que vem quicando, vem que vem que vem quicando). E eu bem que tentava ir pelo meio da rua, mas como ali era um condomínio, passava carro toda hora.  E ainda tinha os caminhões de cavalos, pois o torneio de Polo ia começar depois da corrida. Beleza! Cheguei nos cascalhos. Bem ao lado da chegada. Fim! Da primeira volta! Bóra beber água e começar tudo de novo.

Mas agora, tava bem mais legal! Porque o pessoal dos 10km tava correndo ainda! E meus amigos passavam por mim, gritavam, mexiam comigo. Agora sim tava parecendo uma corrida! Tava uma delicinha até chegar…a ladeira do Pelourinho de novo!

Mas agora, tive um agravante! Já falei que não transpiro, né?! Apesar de grande parte do percurso ser na sombra, tinha sol, estava o calor de Ribeirão Preto e eu, fazendo esforço. Resultado? Comecei a ferver! No meio da subida, freei a cadeira e joguei meio copo de água gelada na minha nuca e nas minhas costas. Continuei subindo feliz e contente, pensando porque mesmo eu estava naquela ladeira de novo. Cheguei no pico do K2 e lá se foi mais meio copo de água em mim. Molhei shorts, almofada..mas esqueci de molhar a cabeça. Tudo bem, dei uma refrescada. Nisso, passam por mim a Dri, a Eliane e as duas Cris. Ah, que delícia fazer uns metrinhos com elas, que foram devagar pra ficar comigo. Mas, não dava! Elas tinham que ir e eu desviar da buraqueira.

Até que, quando eu menos esperava, acabou o asfalto de novo. A chegada ficava no meio dos pedregulhos, então, eu não tenho fotos da chegada.

Mas tenho essas fotos bonitas, que meu amigo Rafael Cautella tirou de mim. Ele é um fotógrafo super competente e um amigo querido. Olhou pra mim e disse “Você lembra qual foi a última foto que tirei sua andando?” Eu não lembrava, mas ele sim! E o Rafa foi fotografar a Zumba Solidária que a Fer e os meninos fizeram pra mim. E também fotografou vários outros eventos em que eu estive, como a inauguração da academia. Ele sempre tira fotos lindas minhas, e me trata com muito carinho!

Um momento emocionante foi quando a Paty e a Carol me seguraram em pé, pra gente repetir a foto da última corrida. Mas eu ainda não recebi a foto. Encontrei essa aqui, quando as meninas correram pra sair na foto com a gente enquanto  eu gritava “Vai logo que minha pressão vai cair, gente.” Essas minhas amigas valem ouro!!

E aí, a corrida acabou. Eu estava toda cheia de endorfina e feliz por estar ali, por reviver um pouco daquela sensação mágica das corridas. Ainda é o que eu mais gosto de fazer na vida e isso não vai mudar nunca! Ainda é o lugar que eu mais gosto de estar e o que mais me deixa feliz. E eu não sei quando poderei participar de novo (porque só ir e olhar ainda me deixa triste.) Se foi a mesma coisa que correr de pé? Claro que não! Nem de longe! Mas foi uma fração daquela coisa maravilhosa que eu tanto sinto falta!

Essa corrida era recreativa. Não tinha chip, não tinha pórtico de chegada. Não tinha medalha de finisher. Mas tinha muita alegria, muitos amigos, muita endorfina, muita saúde, muitos lembranças, muitos sorrisos, muito amor!