Dani Nobile

Retrospectiva 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

Esse era pra ter sido o último post de 2014. Mas em dezembro, minha vida virou de cabeça pra baixo  pela milionésima vez no ano. E em dezembro, eu só pensava em 3 coisas: comer, dormir, treinar. (essa rima parece familiar?)

Pois é, eu tinha várias ideias pra escrever, mas tempo e forças me faltavam. E um dos projetos pra 2015 é organizar melhor o meu sono, pra poder escrever mais aqui no blog. Sobre esporte, sobre as coisas que eu penso, sobre as conquistas dos amigos, além das minhas.

Mas, o que era pra ser o último post do ano que acabou, virou o primeiro post de 2015. Eu só não podia deixar de escrever sobre O MELHOR ANO DA MINHA VIDA!

Meu ano começou a ficar bom logo no começo, em fevereiro. Num impulso, eu decidi fazer minha primeira travessia. Faltavam 9 dias pra prova, eu estava sem nadar, treinei apenas 4 dias, mas fui lá e completei. Aprendi muito ali, naquele momento.

 

 

 

 

 

Também foi no comecinho do ano que eu dei a minha primeira palestra. O que abriu caminho pra mais convites, para que eu pudesse contar um pouco da minha história, em locais diferentes, com enfoques diferentes, mas sempre tentando mostrar que tudo é possível, basta querer!

 

Mas a reviravolta veio em abril. Minha amiga e mãe japa, a Marinoca, me chamou pra ver o pessoal na Meia Maratona da Corpore. Mas com o apoio dela, do Michel, da Lilika, de outros amigos e de uma turma que eu conheci pessoalmente ali, no dia da prova, eu completei os meus primeiros 21km depois do acidente. Eu acredito que esse tenha sido o momento mais importante e emocionante do meu ano. De falar ou escrever sobre isso, eu choro. Eu ainda lembro da emoção que senti que estava pronta pra largar. A única com uma adaptação de handbike de passeio, no meio de feras do paraciclismo com handbikes tops das galáxias. Mas naquele momento, nada mais importava. E a Marina virou pra mim, me abraçou debaixo do pórtico e disse “Aqui é o seu lugar. O lugar onde você tem que estar e de onde nunca deveria ter saído.” E a emoção de cruzar aquela linha de chegada foi algo indescritível.

 

 

 A partir daquele dia, minha vida não parou mais de mudar pra melhor. Conheci a Fer e o Itimura pessoalmente. E em junho eles fizeram meu ano se transformar totalmente. Mas antes disso, em maio, eu e a Fer, junto com o Paulo, fomos pra Floripa (num outro impulso doido porque nenhum dos 3 bate bem, embalados por uma promoção de passagem aérea). Lá, participamos de um evento histórico no Brasil, tanto no âmbito das corridas como no da lesão medular. Corremos a primeira Wings For Life realizada no país. Uma corrida patrocinada pela Red Bull, cuja renda é totalmente revertida para o Instituto Wings for Life, que pesquisa a cura da lesão medular. É uma corrida num formato diferente, e foi incrível estar ali. Ganhar essa prova (meu primeiro pódio pós-cadeira), tornou a mim e ao Jaciel embaixadores da Wings for Life 2015 no Brasil e ainda teremos a chance de correr essa prova no país de nossa escolha, nesse ano que começou!

Depois disso, fui a São José dos Campos, conhecer um cara incrível que ajuda muitos cadeirantes pelo Brasil afora. Fui conhecer o Arthur, idealizador e propagador do Core 360 cadeirante. Aprendi muito com ele e com cursos que ele me proporcionou. Através dele, pude conhecer mestres do esporte e da educação física, com quem aprendi no âmbito pessoal e profissional muita coisa, que serviu pra minha própria reabilitação, e espero que eu tenha conseguido ajudar outros cadeirantes também.

 

 

 

 

 

 

 

E chegou junho, e com ele a corrida Eu Atleta, e um grande presente que eu ganhei e que mudou a minha vida para sempre: minha primeira handbike. Aquela prova de 10km me mostrou o quanto eu estava fraca e despreparada pra usa-la. Mas também me mostrou o quanto eu amo estar ali nas corridas. Porém, todo mundo sabe que eu tenho mais dificuldade do lado esquerdo do corpo. E que minha mão esquerda é mais fraca que a direita. O freio e o trocador de marcha veio do lado esquerdo. E lá se foi a handbike para regular.

 

 

 

 

 

 

 

Enquanto fiquei sem ela, passei por uma das experiências mais incríveis da minha vida: a Copa do Mundo. Teve um monte de defeitos, teve desvio de dinheiro..todo mundo sabe disso! Porém, culturalmente falando, foi uma experiência riquíssima e inesquecível! Viajei 4 estados em 20 dias. Conheci pessoalmente vários amigos e amigas virtuais. E pude contar com sua hospitalidade em todas as cidades para onde fui. Revi amigos, conheci muita gente legal. E conheci muitas culturas! Conversei com gente do mundo todo. E a cadeira atrai um pouco de atenção de pessoas que não tem preconceito. E eu trouxe pra casa vários presentes e souvenirs do mundo inteiro. Trouxe também recordações que ficarão pra sempre me minha memória. E jamais poderei agradecer a quem me proporcionou tudo isso!

Acabou a Copa, minha hand voltou pra mim. Mas eu não tinha como treinar nela. (Não tinha rolo, nem como levar a hand pra locais apropriados de treino na rua). Porém, durante a Copa, prometi a mim mesma que eu voltaria pra piscina assim que a Copa acabasse. E na primeira segunda-feira após a final, lá estava eu, lendo na porta da piscina sobre o desafio do Canal da Mancha. Comecei a fazê-lo dias depois do seu início. Pedi pra Ju, minha treinadora aquática, se eu poderia completá-lo apenas como desafio pessoal. Mas todo mundo sabe que eu sou bem competitiva. E quando meu nome apareceu no quadro como 5ª  colocada, a coisa ficou séria! Nadei feito doida e terminei em segundo lugar! Cheguei a nadar 4100m no mesmo dia, pra completar o desafio antes das outras meninas (a doida!!). Isso me preparou pro meu próximo desafio.

 

No início de agosto, fui encarar uma prova pela qual esperei 2 anos: a Golden Four Asics. Foi um momento tão maravilhoso e incrível. E graças à natação e à prova de 33km, eu tinha braços pra completá-la e ainda subir no pódio! E depois dela, veio o rolo de presente, dos amigos Eduardo e Michelle. E começaram os treinos com a Fun Sports.

 

 

 

 

 

 

 

 

E depois da Golden Four SP, graças à Fer, eu fui pra minha primeira viagem internacional e fui correr a Meia Maratona de Buenos Aires. Foi incrível conhecer outra cultura, outro país, ter o meu primeiro pódio internacional, saber que eu ainda lembro bastante de espanhol e me entupir de dulce de leche (quando falo me entupir, foi até sair pelo nariz! Era dulce de leche no café da manhã, no almoço, no lanche da tarde e no jantar)!

 

 

 

 

E depois dessa vieram mais e mais corridas. Veio minha primeira prova em Ribeirão,gripada, acabada, mas com todo o apoio da organização e com a abertura da categoria pra esse ano que está começando. E depois dessa, minha primeira prova na minha cidade mais amada: Rio de Janeiro! Fiz a Adidas Boost Endless e ainda curti vários dias na casa das minhas amigas, naquelas praias maravilhosas, descansei, entrei no mar várias vezes e voltei com energias renovadas pra encarar mais mudanças na minha vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

E fui pra minha tão sonhada e esperada Golden Four Asics BSB. E tive que lidar com a frustração de uma prova arruinada pela hand quebrada. Não consegui o resultado que queria, apesar de conseguir termina-la graças à ajuda de um ciclista que ficou anônimo por dias, e agora é um grande amigo!

 

 

 

 

 

E aí, veio mais uma reviravolta: o Paraciclismo. Depois da Copa Brasil, nos últimos 3 dias de novembro, todos os meus objetivos pra 2015 mudaram. E ali algumas coisas mudaram irremediavelmente na minha vida, para sempre!

 

 

E no começo de dezembro, depois de brigar pra completar a Volta da Pampulha, lá estava eu em Taubaté, cidade onde nunca imaginei colocar nem meus pés nem minhas rodinhas, conhecendo mais 4 esportes diferentes e fazendo meu primeiro treino com a handbike na estrada. E a distância foi de, pasmem, uma maratona! Mesmo tendo feito mais que essa distância no rolo 2 dias antes e quase essa distância no rolo, no dia anterior.

 

 

 

 

E então eu virei uma lesma morta, que só pensa em comer, dormir e treinar. Meu volume de treino dobrou e meu corpo começou a sentir um cansaço descomunal. Consegui voltar a acordar cedo! E agora estou tentando dormir cedo também.

Em 2014 eu mudei ainda mais a qualidade da minha alimentação. Primeiro sozinha, e depois com a ajuda do meu nutri Hugo. Assisti à duas palestras dele, uma do nutri Rodolfo Peres, e uma do nutri Renato Barbim, e pude aprender muito com eles, sobre a qualidade da alimentação para atletas e sobre nutrição para todos, seja andante, cadeirante, atleta ou precisando de um puxão de orelha pra sair do sofá.

Falando em sair do sofá, eu e a Jady iniciamos uma campanha pra levar mais meninas ao paraciclismo. E graças a Deus eu tenho recebido muitas mensagens de cadeirudas que querem começar. Só espero que o desejo delas e o nosso se torne realidade!

 

Também passei por experiências importantes, como estar em uma das edições do Corra Pela Vida, pela luta contra a Violência contra a mulher e sua valorização através do esporte. Eu também gravei um comercial pra Globo e um pra Nike!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu também tive muita sorte em 2014, de ter grandes amigos do meu lado, me apoiando em vários aspectos. E também de ter o apoio da minha família no esporte, que, acima de tudo, é o meu modo principal de me reabilitar. Sim, o plano A continua ser voltar a andar. Mas eu ainda continuo convicta que quem fica parado é poste, e enquanto meu corpo não desperta para o andar, eu tenho o plano B, o esporte que só tem me trazido coisa boa!

E graças ao esporte eu conheci muita gente bacana nesse ano! Tanta gente que nem conseguiria contar! E através das redes sociais, tanto aqui no blog, como no face e no instagram, eu recebo muito apoio e motivação. Todas as vezes que penso em parar de escrever aqui, ou postar no ig, eu recebo alguma mensagem de alguém, dizendo que eu pude ajudar dessa ou daquela forma. Aí eu sinto que meu principal objetivo ao fazer o blog, está sendo cumprido. E só posso agradecer a cada um de vocês, que me manda mensagem, agradecendo ou até pedindo pra escrever sobre determinado assunto!

Eu também tive a confiança de muitos profissionais e empresas. Estando do meu lado desde o início, ou entrando na minha vida no decorrer do ano, ou ainda para eventos pontuais, essas pessoas acreditaram em mim como atleta e eu só posso agradecer imensamente por isso! E prometer me esforçar ainda mais para honrar essa confiança.

Tive também o apoio da imprensa. Tanto local, em jornais e revistas da minha cidade, quanto revistas e sites de alcance nacional. Além de alguns programas de TV. Acho que o mais legal de todos foi o Chegadas e Partidas, quando eu e as meninas estávamos indo pra Buenos Aires e fomos paradas pela Astrid no aeroporto. Durante a entrevista eu comentei que faria aniversário de lesão no deia 22 de outubro. E eles passaram a reportagem no dia 22 de outubro. Foi um presente incrível e super significativo pra mim!

Sim! Comemorei esses 2 anos de vida e comemoro todos os dias 22 de todos os meses.

Esse ano que passou, fiz muita coisa diferente, mas também continuei fazendo muita coisa que sempre fiz. Sou a mesma pessoa que ri sempre, que faz piadas idiotas, que gosta de estar rodeada de amigos, que adora ouvir música cantando e berrarrando a letra a plenos pulmões, que ama esportes, que ama viajar,  que ama a vida!

Me considero feliz e vivo muito mais intensamente agora do que antes. Viajo mais, passeio mais, dou menos valor ao dinheiro e mais às experiências vividas, dou menos valor à aparência física e mais à saúde. Conheci muito mais gente, muitas pessoas legais que me ensinaram muito.

Nas primeiras horas de 2015, uma pessoa me perguntou se eu estou perto de juntar meu primeiro milhão. Eu ri. Disse pra pessoa bem assim: “Sempre que você me perguntar, eu provavelmente terei pouco dinheiro na conta. Porque provavelmente eu terei acabado de ir viajar pra algum lugar, ou pra passear, ou pra alguma prova. Eu prefiro viver do que juntar dinheiro.”

Eu ainda odeio minha barriga flácida de tetraplégica. Mas a vida quis reforçar, através da cadeira, que há coisas muito mais importantes que a aparência. Dou valor a estar bonita e arrumada. Mas claro que isso não é tudo! Ser respeitada pelas minhas ideias, pelos meus ideais, ser vista como mulher antes de ser vista como cadeirante, alguém parar pra ouvir o que eu penso antes de me olhar e me prejulgar, é muito mais importante!

Depois que vc vê a morte de perto e Deus te dá outra chance, passa a encarar a vida de uma outra forma. Dá mais valor à certas coisas e menos à outras. Pensei em tudo que queria ter dito e não disse, em tudo que teria ter feito e não fiz. E agora, eu tento me empenhar mais em viver.

Eu já disse um montão de vezes, mas eu não canso de repetir. A repetição é a mãe da retenção, pra mim e pra vocês! Com certeza meus valores mudaram. Eu simplesmente vejo a vida de uma outra forma.  Dou mais valor aos meus pais (mesmo que eu não demonstre tanto pra eles). Dou mais valor aos meus amigos. E tento estar com eles sempre que posso. Dou mais valor ao amor e não tenho vergonha de demonstrar. Dou mais valor às pequenas coisas, aos momentos. A gente nunca sabe se aquela vai ser a última vez que vc ta fazendo aquilo, que vc ta naquele lugar, ou que vc ta com aquela pessoa. Então, eu procuro viver intensamente cada momento da minha vida.Eu viajo mais, passeio mais e faço menos contas hahahaha  Posso ficar dura. Mas dinheiro nenhum vale mais que uma boa lembrança. E eu to cheia de lembranças boas.

Não sou uma pessoa perfeita! Ainda tô há mil anos luz disso! Mas tento ser uma pessoa melhor do que eu era na época do acidente. Tirei um milhão de lições. Mas acho que as principais são que a vida é curta demais pra gente ter uma vida chata. Que sobreviver é muito chato.

Tem gente que junta seu “um milhão” em dinheiro, mas não cria lembranças pra si mesmo. Eu quero uma vida cheinha de lembranças, de risadas, de bons momentos, eu quero uma vida colcha de retalhos, que a gente constrói aos poucos, vai costurando os pedacinhos, fura o dedo, a linha acaba, a gente pega outra de outra cor, para pra cortar mais retalhos, vai fazendo um pouquinho por dia, um pedacinho de cada vez.

Meu ano foi assim, cheio de pedacinhos. Pedacinhos que me viraram de ponta-cabeça mil vezes. Pedacinhos amigos. Pedacinhos amores. Pedacinhos dores. Pedacinhos conquistas. Pedacinhos troféus e pódios. Pedacinhos decepções. Muitos e muitos pedacinhos sorrisos. Com certeza foi o melhor ano da minha vida! Tomara que 2015 seja tão competitivo quanto eu e queira superar 2014!  Mas eu que não vou ficar sentada esperando acontecer, né! Eu vou é correr atrás. Do jeito que eu consigo correr. Do meu jeito!