Dani Nobile

Tetracanoagem

 

Com muito orgulho, o primeiro post da coluna “Gente” de 2016 tem mais de uma pessoa! Vou contar a história de alguns amigos meus que decidiram inovar diante da dificuldade.

Meu primeiro contato com a tetracanoagem foi através do meu amigo Marcelo Carmessano. E ele mesmo conta sua história com o esporte: ” Minha historia neste esporte começou em 2011 em uma de minhas internações na Rede Sarah onde usam a canoagem como forma de reabilitação. A sensação que senti quando entrei naquele caiaque foi indescritível, estar na mesma condição de pessoas sem nenhum tipo de deficiência foi muito bom. EM 2012 conheci o Fernando Fernandes que na ocasião me muito suporte pra adquirir o caiaque mais adequado pra meu nível de lesão e desde então venho participando dos campeonatos Estaduais, Nacionais e internacionais, inclusive me tornei em 2015 bicampeão mineiro de paracanoagem. Em 2015, lutamos bastante para ser criada uma nova categoria para tetraplégicos com o nome sugestivo dado pelo Felipe Pacheco de TETRACANOAGEM e estamos aguardando a concretização dessa categoria este ano ainda. Mas o mais importante de tudo isso foi que nunca desisti e sempre persisti e insisti naquilo que eu queria e a partir desse ano esperamos colher os frutos e elevar a TETRACANOAGEM aos mais altos níveis de competição. “

Depois, ouvi sobre o esporte por meu amigo Douglas Rodrigues. Esse Frangolino (apelido carinho pelo qual nos chamamos) foi parceirão em 2014, quando passei por alguns problemas e, mesmo de longe, ele ficou do meu lado. O Douglas é de Lontras e teve lesão C5, C6 e C7, num mergulho em águas rasas em 2012. Ele luta muito pra treinar num trecho curto de água que tem em sua cidade. E também participou das provas de 2015. Tão doido pela tetracanoagem e pelo paraciclismo (ocasiões em que nos encontramos pessoalmente), ele teve uma lesão por excesso de treino e nos ensinou, em 2015, como a perseverança nos ajuda a lidar com a dificuldade. Além disso, mostra como o apoio da família e dos amigos é fundamental. Ele conta com a parceria incondicional do seu paizão, e também ajuda do melhor amigo. Só assim ele pode treinar adequadamente e vem se destacando no esporte.

Agora, o trem ferve mesmo com o Felipe Pacheco! É o remador mais experiente de todos eles. Foi o primeiro de todos a começar na tetracanoagem, e eu deixo que ele mesmo conte sua história:

“Sofri um acidente automobilístico em 09/05/2009, em Campinas aos 25 anos de idade. Nessa época eu  havia me formado em administração de empresas, trabalhava e amava treinar musculação . Eu sofri o acidente no sábado à noite , véspera dos dias da mães . Fiquei na Unicamp e fui transferido para São Paulo na segunda feira 11/05/2009 na o hospital Santa Catarina . Fiquei internado 23 dias na uti e depois fui para o quarto. Fiquei la até 21/08/2009, onde fiz 2 cirurgias .

Quando cheguei em casa , me senti muito mal por não conseguir fazer tudo que  fazia antes. Foi aí que a história do Fernando (Fernandes) me chamou atenção, quando ele diz que a canoagem te trouxe a liberdade e a sensação de igualdade. Fui atrás dele na raia da Usp e ele me ajudou a me adaptar. Na época, em 2011, só tinha eu de Tetraplegico . Com meus vídeos fui chamando a atenção e consegui trazer mais 5 tetras. Antes deles virem competir eu sempre disputava provas com os paraplégicos onde era impossível eu sonhar em vencer . Mas hoje temos nossa categoria. Fui campeão da Copa Brasil de Tetracanoagem, campeão sul-americano e campeão Pan-Americano e do campeonato brasileiro de tetracanoagem. Essas vitórias e resultado de um trabalho intensivo de treinos na raia da USP com o Professor Ricardo Linhares , treinos de recuperação motora e treinamento de fortalecimento, acompanhamento nutricional  e suplementação.”

Então, pedi pra ele me contar como foi convencer os outros meninos a começar e qual foi a sensação da primeira prova só com tetras.

“Quando comecei a treinar , comecei a divulgar nas minhas redes sociais fotos e vídeos dos meus treinos , ai veio o Marcelo Carmessano de Minas Gerais. Junto com ele conseguimos a adaptação dos flutuadores para auxiliar no equilíbrio ai fomos disputar por 2 anos na categoria de paraplégicos junto com o Fernando Fernandes. Foi aí que vimos que seria impossível ganharmos alguma prova por conta da lesão e das dificuldades que temos.

Então, com a nossa persistência e alegria , chamamos a atenção de mais pessoas , como o Douglas Rodrigues ( Santa Catarina ) Michel galo ( piraju) Alan Mazzoleni ( São Bernardo ) Thiago ( Rio de Janeiro ) . Não convenci ninguém , esse esporte é maravilhoso. Quando a pessoa rema uma vez ,ela não quer parar mais!

Agora estamos conquistando nosso espaço , conseguimos nosso espaço nos campeonatos nacionais que já é um grande feito . Sobre a primeira prova de tetras , eu fiquei muito ansioso , tive até febre de ansiedade no dia anterior, meus pais ficaram doentes uma semana antes, minha mãe internada com infecção intestinal e meu pai com dengue. Por alguns instantes achei que iria desistir , foi foda, mas já estava me preparando para essa prova há meses. Então, o corpo estava preparado, só tive que cuidar da mente. Fui na raça, fiz essa prova e ganhei pelos meus pais, que sempre me apoiaram e estiveram do meu lado. E também pela minha família e amigos que estiveram lá na torcida. A sensação de ganhar é maravilhosa, passou um filme na minha cabeça de todos os treinos , dores , sofrimentos . Mas tudo valeu e está valendo a pena , essa categoria vai crescer muito , iremos fazer muito barulho aind . Tem muitas pessoas vindo atrás de mim para começar a treinar e eu estou duplicando tudo q fiz .”

Outro tetra que experimentou a tetracanoagem foi o Alan Mazzoleni, conhecido entre os deficientes pelo programa de rádio Viva as Diferenças. Ele faz provas de rua, de 5 e 10km, usando a cadeira do dia a dia, e também treina paddleboard. Como foi sua experiência no caiaque? Foi assim:

“Fui m dia experimentar o caiaque do Felipe Pacheco. O mesmo me chamou pra participar de uma apresentação junto com outros tetras no sul-americano de paracanoagem, assim como me juntar a eles para fortalecer a criação da categoria dos tetras no campeonato brasileiro. Para apresentação fiz em único treino numa prancha de stand up sentado num banco adaptado feito pelo Bruno Guazzelli do ”Praia Acessível”.

No dia do evento estava ansioso, o caiaque que remei era emprestado( acabei comprando após o evento) e chegou em cima da hora. Foi só o tempo de encaixar o flutuador do jeito que dava já que a furação não batia (o flutuador serve para dar um pouco mais de equilíbrio), improvisar o apoio da costa, prender o remo nas mãos com uma luva que fixa o remo na mão, e arrumar o regulador da perna dentro da embarcação,  temos que ficar com as pernas retas e como tudo foi rápido não deu pra esticar tudo. Fui pra água, saí remando e as pernas um pouco dobradas foram dando espasmos. Segui tentando me sintonizar entre equilíbrio e remada. Enfrentamos um vento muito forte nesse dia que atrapalhou a todos, na largada já bateu aquela adrenalina e sai remando tentando aprender qual era o melhor jeito, se remar rápido e curto ou se longo e forte. Mesmo com tudo sendo novidade, me surpreendi quando vi que cheguei em terceiro, fiquei muito feliz. Ainda eufórico e já com um gosto de quero mais, fiz uma manobra errada e cai na água, de barriga pra baixo e com o remo preso, me contaram que todos que assistiam se assustaram porque o resgate tava longe, mas como treino muito queda, giro de corpo, resgate e manter a calma aqui com a equipe Supirados e meu instrutor Ricardo Allmada de paddleboard (remada deitada por longa distância ), consegui manter a calma e fiz a manobra até me virar e esperar o resgate chegar. Foi um dia ímpar, cheio de emoções e realizações.”

Tenho muito orgulho de todos esses relatos e essas conquistas desses meninos  são da minha geração e nós somos “xóvens”). Só nos mostram como a perseverança e a vontade nos levam aonde quisermos.

Quer conhecer mais a fundo a tetracanoagem? Acompanhe as conquistas de todos eles nas redes socias!