Dani Nobile

Vamos a la playa?

Pra quem é meu amigo nas redes sociais ou me segue, percebeu que meu amado e eu fomos à praia no final do ano. Na verdade, como ele se mudou pro RN, resolvemos subir de carro da minha cidade (Ribeirão Preto) até Natal. Quem foi mais corajoso? Eu ou ele? Eu por topar ou ele por me carregar, com cadeira e tudo? Sei não…deixem suas opiniões! Talvez role uma enquete….

Fizemos a viagem tranquilamente, passamos uns dias na sogrona, no RJ, na minha prima, em Vila Velha…e assim vai.

Então, vou contar pros meus amigos cadeirudos onde dá pra ir, onde não dá, pros companheiros/amigos/família dos cadeirudos onde dá pra nos levar e pra quem estiver  por ali, onde precisamos de ajuda.

Ta, ajuda é sempre bem-vinda em qualquer lugar, principalmente quando você está carregando uma mala de rodas como eu! :p  e se a mala de rodas não tem uma cadeiras mega-power-off-road.  Mas meu amado é forte, e eu (graças a deus) não sou baleia. Mas, digamos que ele fez atividade física e frequentou academia todos os dias,  só por me carregar…rsjeito

Pra ir pro mar, eu ia sempre no colo. Mas de vários jeitos! Estilo noiva, estilo boneca de pano, estilo saco de batatas nos ombros…tudo dependia da quantidade de pessoas na praia e do cansaço do Fernando.

Mas, bóra lá.

Rio de Janeiro: Calçadões no mesmo nível da areia. Fácil! É só ir te puxando (achamos mais fácil do que me empinar e ir empurrando a cadeira) até o guarda-sol desejado. Prefira um guarda-sol mais próximo do mar, pra não ficar muito longe nos momentos que você quiser entrar e sair da água. Passear no calçadão é tranquilo também.

Vila Velha: Passear no calçadão é fácil. Até fiz exercício, tocando a cadeira por 4km em ritmo forte. Pra entrar no mar, é mais complicado. O trecho de areia, em Itaparica, é extenso e muito inclinado. Aja braço de quem estiver junto com você, pra  descer a cadeira e te subir depois, na areia fofa! Melhor não arriscar.

Porto Seguro: a melhor praia pra ir com cadeirante é Canoa Vermelha, em Porto Seguro. O estacionamento já é dentro dos restaurantes na beira da praia (onde não há banheiro acessível). O pessoal ajuda com a cadeira e o trecho de areia é curto. O problema é que, do rasinho pro fundo, na água, são dois passos! Espere a maré subir, ou morra afogado no buraco rsrs Mas, quer uma dica? Não vá ao calçadão. É impossível tocar a cadeira ou ser empurrado, de tanto buraco. Eita coisa mal-feita! Precisa de uma reforma urgente, pra acessibilidade!

Ilhéus: A praia dos milionários é a melhor pra nós. Com trecho de areia plano, dá pra chegar com a cadeira até bem perto do mar. O problema é chegar na areia. Vá de carro! Ou mate a pessoa que está com você, pra te subir e descer na ladeira baiana, curta, mas inclinadérrima! Lá, cidade da Gabriela, valem o passeio pela cidade, durante o dia e no Bataclãn à noite. As pessoas simplesmente param pra você atravessar. Não há rampas no canteiro entre as pistas da avenida. Há algo melhor: um trecho sem calçada, da largura da cadeira de rodas! Mutoi mais fácil! Mas prepare-se! Lá, a rádio Gabriela é muito boa. As músicas são boas mesmo. E você ainda escuta Gabriela News, Gabriela Esportes e Gabriela Economia. E ainda há os cardápios variados, com Peixe à Gabriela, Peixe pro Nacib, peixe do Amado…e as lojas: Gabriela Modas, Nacib malhas, Sorveteria do Amado…

Itacaré: a Praia do Itacarezinho é a melhor, pois o restaurante é gramado (não é tão difícil de tocar a cadeira), tem banheiro acessível, e pra chegar no mar é muito rápido e o trecho ali é plano e amplo.

Salvador: choveu! Quase perdemos o carro (e bem provável que a minha cadeira) na enxurrada. Pelo amor de Deus! O ônibus passava e fazia ondas tão grandes na rua, que a água batia no vidro traseiro do carro. Mas fizemos vários passeios. Conseguimos ir ao Pelourinho, que é super acessível! As rampas são bem bem-feitas, lisinhas, dá pra tocar a cadeira tranquilamente. Tudo lá é acessível! Fomos a outros lugares, a orla é linda e fomos em lugares onde há banheiro acessível, como a Lagoa do Abaeté, mas pra chegar na Lagoa propriamente dita, você e quem estiver com você, precisarão de ajuda. Na descida todo santo ajuda, mas pra subir! o guardinha ajuda ou quem estiver por perto. Pessoal baiano é hiper prestativo!

Praia do Forte: Pra chegar nao areia é um. Há um caminha com calçamento, mas, pra descer (e depois subir) empinando é impossível! Você precisará ser empurrado. Mas depois que fizer toda a viagem de ida pra chegar, vale a pena! Há poucas opções pra comer, se você não estiver num resort, mas é o melhor lugar pra você ficar criando lodo dentro da água, porque há zero ondas. O problema é que o trecho de areia é inclinado e depois você tem todo o caminha de volta, subindo a ladeira, pra chegar no carro.

Costa e Porto do Sauípe: Nos resorts é tranquilo ficar. Mas se você ta pobre pra pagar as diárias e quer gastar menos (pagando um day-use num resort), pode ficar no Porto do Sauípe. O problema de qualquer um desses lugares é a areia fofa demais pras nossas rodas. Ficamos numa pousada onde o pessoal faz de tudo pra evitar transtornos com a cadeira de rodas e pra você se sentir maravilhosamente atendido.

Aracaju; Melhor lugar em acessibilidade! Vagas separadas em toda a orla, em qualquer praia, calçadas planas, todo mundo para pra vc atravessar, mesmo onde não há semáforo, há passarelas pra encurtar o caminha na areia, todos os lugares tem banheiro adaptado…é maravilhoso!

Maceió: As praias da cidade são um pouquinho complicadas pra gente chegar. Há pedras demais e passagens de menos. Mas nada impossível se você encarar e quem estiver com você, ajudar. A melhor praia é a do Gunga, há alguns minutos de Maceió. Há poucas ondas e o pessoal do estacionamento deixa a gente chegar com o carro bem perto pra desembarcar. Só não dá pra subir no mirante, pois não é acessível. Eu já fui quando andava. Achei que eles pecaram nisso! Acessibilidade no mirante, já!

Maragogi: Visual perfeito. Quando a maré estiver baixa, faça o passeio pras piscinas naturais. Para quem não sabe nadar, ou não quer ficar cansado, peça o colete salva-vidas. Porque há lugares e momentos que não dá pra sentar na areia e ficar com a cabeça pra fora. A pousada onde ficamos também é maravilhosa no sentido de evitar transtornos pro cadeirante. O café da manhã é no último andar, com uma escadaria estreita. Eles mandaram nosso café no quarto e o Fernando podia subir a qualquer hora pra pegar o que mais eu quisesse.

Praia do Patacho: eita lugar maravilindo. Depois que você anda um pedacinho de areia fofa, fica tranquilo. O trecho de areia é pequeno e o mar é calmo pros “malacabados”. Mas se você não quer passar fome ou sede, leve tudo! Não há barracas, ambulantes, cadeiras de praia, nada!

Porto de Galinhas: dizem que alguns jangadeiros gente boa, ajudam os cadeirantes a chegar à piscinas naturais. Nós optamos por acordar 5:30 da manhã e fazer o mergulho. Se você não tiver medo, faça! Há rampas de acesso à areia. O calçadão de lá é perfeito! Deu pra andarmos de mãos dadas e a cadeira não engastalha em nada. O problema é que muitos restaurantes querem te levar às nuvens! Tem escadas sem fim pra chegar lá. Ficamos presos às opções térreas. Donos de restaurantes de Porto de Galinhas: façam rampas, por gentileza! Eu vi mais 3 cadeirantes por lá! A gente vai! A gente quer comer!

Recife: é lindo! Mas pra chegar na areia, precisa-se de um help! há escadas! eu fui no colo e minha amiga Sandrinha, que estava conosco, levou a cadeira. Não tive coragem de entrar na água, apesar de o mar parecer delicioso. Tive medo dos tubarões. Melhor prevenir do que virar jantar. O passeio ao Marco Zero é tranquilo de fazer. Há rampas nas calçadas. No parque  de Boa Viagem, há banheiros acessíveis também.

João Pessoa: o calçadão é bonzão e no mesmo nível da areia. Há uma inclinação pra chegar até o mar. Aja muque pro senhor Fernando. Fomos pra praia de Tabatinga. Ou você estaciona debaixo dos coqueiros e fica mais perto do restaurante, ou estaciona longe e desce uma escadona. Ali é lindo, encontro do rio com o mar e é tranquilo demais pra cadeirante ficar. O problema é que, do nada, a maré sobe. Você resolve ir embora. Começam a empurrar sua cadeira pela areia, longe do mar. De repente, vem uma onda que quase leva você, a cadeira, quem te empurra…e te enche de algas até o joelho. Eca!

Por do sol no Jacaré: é lindo demais! Há rampas pra descer até os barcos e o pessoal ajuda a colocar a cadeira la dentro. Vale muito a pena! E o calçadão também é tudibão pra andar de mãos dadas.

Natal: território a ser explorado durante todo esse ano! Há um projeto de praia acessível lá, mas ainda não encontramos. Fica em Ponta Negra. Se não existir, impossível de chegar na areia. Há uma escadaria imensa, no meio das pedras. Praia do Forte é o melhor lugar pra ficar, há pouca areia e zero ondas. Mas, disseram que ali há muitos assaltos. Prefeitura, acorda! Queremos ir pra lá! Há algumas lagoas bem legais pra visitar, com estrutura. Tem uma onde até demos umas remadas no caiaque. Eu tive medo da tirolesa, mas o Fernando foi. E deu pra eu nadar tranquilamente. Em Pirangi, é super tranquilo pra ficar. O trecho de areia é plano. Praia de Genipabu, é uma delícia, mas o trecho de areia é gigantescoooo! Pedimos ajuda pra um buggueiro e ele topou me levar até o guarda-sol.O trecho das barracas até o mar também é enorme, pela manhã. E tem ondas, mesmo no rasinho. Fiquei sentada com água pra cima da barriga, mas fui arrastada  pro rasinho umas 2 vezes :p  Dá pra chegar com a cadeira mais perto do mar, mas nem tanto. Por algum motivo natural, que ainda não descobrimos, a areia fica super úmida um tantão antes do mar.

Fim da viagem, começo do chororô e das lágrimas.

Fazendo um balanço geral, nesses territórios arenosos e pedregosos, não dá pra se aventurar sozinho e correr o risco de sair rolando, cadeirante pra um lado e cadeira pro outro (Falando nisso, eu caí! O Fernando e o jangadeiro que me tiraram do chão  Imagina se eu estivesse sozinha, que beleeeza). Não importa o quanto a praia é acessível, é sempre preciso um esforço grande, por parte dos nossos companheiros, amigos ou família, pra nos carregar pra cima e pra baixo. Pedir ajuda não custa nada. E aceitar a ajuda, é mais fácil ainda, pois muita gente oferece! Pouquíssimas praias oferecem banheiro acessível. É preciso se virar, dar o jeitinho brasileiro, pra resolver essa situação. Portanto, vá preparado e tenha bom-humor e seja criativo.

Mas, voltando ao assunto pelo qual escrevi esse post. Queridos cadeirudos e cadeirudas, saiam de casa e vão passear! Queridas famílias dos meus amigos malacabados, tirem-os de casa e vão juntos passear! Dá certo. Só é preciso um pouco de paciência de ambas as partes. Divirtam-se! Dá pra fazer muita coisa legal, tirar lindas fotos, ter muita história pra contar, viver momentos legais juntos…

Texto originalmente publicado no Blog Mãos pelos Pés, no Running News