Dani Nobile

Cadeirante correndo em Interlagos? Por que não?

Um belo dia, abro meu Facebook e vejo uma foto de um dos meus amigos virtuais, falando que estava indo treinar em Interlagos. Como louca cadeiruda que sou, não duvidei do meu amigo sobre rodas. Mas pensei: “um dia quero ver isso de perto”.

Cadeirantes em Interlagos – Foto: Divulgação

E esse dia chegou! Mas deixa eu contar como. Conheci esse meu amigo, o Thiago, pessoalmente, na Reatech. Fui dar uma olhada no stand deles e conheci os outros pilotos.

Paulo Polido, que além de piloto é idealizador desse projeto, era piloto de motocross. Aliás, foi o motocross que o deixou cadeirante, pois ele se acidentou durante uma prova. Mas isso não o abalou! Em 2006 foi o 1º piloto deficiente a participar do Rally Internacional dos Sertões e formou a 1ª equipe com pessoas com deficiência a participar das 500 Milhas de Kart da Granja Viana. Quem é próximo brinca que ele tem um motor no lugar no cérebro. Tanto que conseguiu voltar ao motocross recentemente! Sim, ele é cadeirante, mas lutou tanto por esse sonho, que conseguiu!

O Tales Lombardi era piloto de aeronaves, ficou na cadeira após uma falha mecânica no helicóptero que pilotava. Pensa que ele ficou na cadeira pensando que a vida acabou? Agora ele voa baixo nas pistas, pois é campeão de kart adaptado e piloto em Interlagos.

E o Thiago Cenjor, que ficou cadeirante após um assalto. Foi integrante da equipe de kart adaptado, que o Paulo formou em 2006. E anos depois também foi campeão de kart adaptado!

Lá na Reatech, conversei bastante com eles e eles me convidaram pra estar no box da Equipe IGT, na próxima etapa do Campeonato Marcas e Pilotos, que seria em duas semanas, em Interlagos. E eu fui!
Quem olha os carros na pista, não percebe que um deficiente está pilotando um deles. Fui olhar de perto as adaptações feitas no carro. Tem que ter raça pra pilotar um carro não-automático, naquela velocidade toda.

E quem pensa que os meninos foram lá de alegres, sem preparo nenhum, está muito enganado. Pra ter a carteira de piloto, a PGC (Pilotos Graduação de Competição), eles treinaram muito, passaram por exames médicos e tiveram que, inclusive, provar que conseguem sair do carro em 15 segundos, durante os testes.

Os meninos ainda estão começando, afinal, estamos na 4ª etapa de um mega projeto que está apenas no início. Mas a corrida já emociona, pelo barulho dos carros acelerando nos boxes, pelo apoio da torcida, pela adrenalina do ronco dos motores passando a toda velocidade na pista. Aí você pensa que quem está ali é um cadeirante, que podia estar em casa reclamando da vida, sentado na cadeira de rodas lamentando o acidente, sentado no sofá com o controle da TV na mão. Mas ele está ali, correndo de igual pra igual com 40 andantes, ou mais. Provando pra si e pros outros, que quando a gente quer, a gente vai lá e faz!

Duvida? A próxima etapa é dia 26 de maio. A entrada em Interlagos é gratuita, mas o estacionamento é pago. Mas vai lá, senta na arquibancada, assiste a corrida e tente descobrir qual é o carro dos “malacabados” na hora da largada!

Ah, e pros meus amigos cadeirudos que estão querendo por fim à vida de lamentações, o Paulo está procurando gente pra correr de kart na equipe deles. Procure por ele e faça um test! Quem sabe você também não se torna um viciado por esportes a motor?

Texto originalmente publicado no Blog Mãos pelos Pés, no Running News