Dani Nobile

Por que o Sarah?

Muitas pessoas me perguntam por que a ideia fixa de ir para um hospital tão longe, velho conhecido dos lesados medulares: o Sarah!

Para quem não conhece, o hospital Sarah Kubitschek, cuja matriz fica em Brasília, e é dividido lá em duas unidades, é o maior centro de reabilitação para lesão medular no país e referência na América Latina. Temos outras unidades espalhadas pelo país, como em Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Todas as unidades são destinadas ao atendimento de vítimas de politraumatismos e problemas locomotores, objetivando sua reabilitação; é mantido pelo Governo Federal, embora sua gestão faça-se pela Associação das Pioneiras Sociais. O nome é em homenagem à Sarah Kubitschek, primeira dama do país na época da fundação de Brasília.

Pies para qué los quiero si tengo alas pa’ volar? (Pés, pra quê os quero, se tenho asas para voar?) Frida Kahlo.

Justamente por isso eu quero ir pro Sarah, porque quero voar! Não voar literalmente, como fez meu amigo Fernando Fernandes. Diferente dele, eu morro de medo de altura!

Mas, eu quero ter um pouco de liberdade, de mobilidade, de independência!

Como ainda não consegui minha vaga no Sarah, eu sou muito dependente das pessoas. Ainda não aprendi a me transferir (sair da cadeira e ir pra cama, pro carro, pro sofá, sozinha), não consigo trocar de roupa sozinha. Então, preciso da ajuda da família pra me trazer água, comida, me ajudar a sair de casa pra passear, a sair da cama e ir pro sofá assistir TV, entre outras coisas.

Além de ensinar essas coisas “básicas” para a alegria de qualquer cadeirante, o Sarah de Brasília conta com uma unidade conhecida como Sarah Lago Norte.

Como o site oficial do Sarah o define “O Sarah Lago Norte é um importante centro de apoio a pesquisas avançadas na área de reabilitação e a intensificação dos programas de tratamento de pacientes, visando reintegrá-los ao meio de origem.” (http://www.sarah.br)

Mas, para cadeirudos como eu, é ali que a diversão começa: é onde somos apresentados aos esportes adaptados.

Um pouquinho das instalações foi mostrado no programa da Regina Casé, numa matéria linda sobre nós, cadeirantes. Lá, ela entrevistou a presidente (ou presidenta?) Dilma e me fez ficar com mais e mais vontade de ir pra lá!

Quais são minhas expectativas pra essa semana que começa hoje?

Bem, amanhã eu embarco pra Brasília e tentarei a minha vaga lá! Farei exames por uma semana, na esperança de ser aceita pra internação, começando no Sarah Centro, pra reaprender a ser independente, e depois, espero ser “enviada de mala e cuia” para o Sarah Lago Norte e me divertir muito, aprendendo a perder o medo, como o que eu tinha, de enfiar a cabeça na água!

Ah, isso eu ainda não contei! Vamos lá! Quando eu fui liberada pelo médico para entrar na água, eu morria de medo de me afogar. Isso porque minha coluna tinha zero de firmeza, e eu tinha medo de afundar como pedra. Então, eu preferia ficar segura, com a cabeça pra fora da água. Até que eu comecei na escola de natação e meu professor, pacientemente me ajudou a perder esse medo e, finalmente, enfiar a cabeça na água.

Também tenho outros receios, relacionados à cicatrização da minha cirurgia e os esportes. Espero perder todos os medos lá e encher o blog de novidades sobre tudo que eu experimentar por lá!

Texto originalmente postado no blog Mãos pelos pés, no Running News