Dani Nobile

Vela: um caso de amor

Quando você está apaixonado, você tem vontade de sair gritando pro mundo! O povo já trata de mudar o status do Facebook rapidinho. Será que posso ter dois novos amores? Será que posso colocar lá “em caso de amor com a vela e a canoagem”?

Vela no Lago Paranoá – Foto: Arquivo Pessoal

Meu Deus! Fiquei em dúvida sobre qual escrever primeiro. Aí, optei pela vela! Sem ciúme, canoagem, caiaque gracinha, vocês serão os próximos!

Contando a verdade. Quando li “vela” na minha grade de atividades do Sarah, não me empolguei. Pensei “mas que porcaria eu vou fazer lá?” E tinha 2 horas de atividade marcadas! Ó meu Deus! Respiremos!

Aí vem o querido professor Rodrigo, com aula de teoria! E eu, sentada (óbvio), adorando!

Vários significados novos para as palavras. Orçar, não é fazer orçamento! Caçar não é ficar atrás de um bicho com a intenção de atingi-lo com projétil (muito menos o que uns caras bobos fazem quando vão pra balada). Morder não é aquilo que o cachorro faz. Biruta não é gente doida. Catraca não é de ônibus, nem a da porta da academia. E ainda tem arribar, cambar, bombordo, boreste, retranca, quilha, jaibe, través…Leme, proa e popa, nem vou comentar, porque todo mundo sabe o que é!

E eu pensando:”Como eu vou decorar tudo isso?”. Claro que o professor ajudava, com umas piadinhas que…melhor não comentar! E depois eu pensava: “Pra que eu preciso saber tudo isso, se é só sentar naquele veleiro enorme e ficar curtindo o vento?” Ahãm…doce ilusão. E ainda bem que era ilusão! Porque no veleirinho amarelo, o Escape, é bem melhor! Centenas de vezes melhor!

Bem, entramos com o veleiro na água e eu já entendi o porquê do “Dani, vai de maiô e um shorts”. Entrou água pra tudo que era lado. Quem me conhece sabe bem a cara que eu fiz nessa hora. No melhor estilo “oba” possível.

Mas ainda não estava mega empolgada. Achei que ia ser uma paradeira danada. Até que os ventos começam a soprar, o professor diz “Dani, pega o leme” e começa a usar todas aquelas palavras lindas que eu tinha acabado de aprender e reaprender e eu fui ficando muito louca! Depois, o professor e o marinheiro, responsável por nos acompanhar no bote ao lado, começaram a falar outras palavras lindas e eu fui ficando mega empolgada!

Fizemos treino de sobrevivência, pois é necessário aprender a saber o que fazer caso a embarcação vire e você caia na água. E eu, mesmo de colete salva-vidas, dei umas braçadinhas na água do lago, para poder alcançar a popa e subir novamente (sozinha) na embarcação. E me empolguei mais ainda com tanta adrenalina!

No primeiro dia pareceu muito complicado, mas muito, muito ótimo. E eu saí da água com aquele gostinho de quero-mais, contando os segundos para a próxima aula.

A segunda aula chegou num dia de tempo nublado. Já fiquei toda triste, pensando que não ia ter aula. Até que um dos marinheiros do Sarah disse “Hoje está bom demais pra vela. Olha o vento” e apontou pra água. Eu conseguia ver o vento, mas não para onde ele estava indo ou de onde estava vindo. Aprendi nesse dia. O professor Rodrigo também me ensinou como perceber, pela água, que uma rajada de vento de aproxima. E nesse dia, meus amigos, tivemos várias e fortes rajadas de vento e a aula de vela mais animalmente empolgante da minha vida! A embarcação, que obviamente é na horizontal, chegou a verticalizar. Mesmo com o professor e eu fazendo peso pro lado contrário. Foi o dia que mais aprendi na prática. E fiquei sozinha por uns 5 minutos na vela. O professor voltou com medo que um jaibe fizesse a retranca bater na minha cabeça com muita força (falei grego?).

A Vela Adaptada, no Brasil, teve início em 1999 com o Projeto Água-Viva, desenvolvido a partir de uma parceria entre a Classe de Vela Day Sailer, o Clube Paradesportivo Superação e o Clube Municipal de Iatismo em São Paulo.

Os atletas treinam em vários tipos de barcos: o 2.4mR, oficial das Paraolimpíadas, o Day Sailer, barco de 5 metros sem quilha, que não é oficial. Em 2008 chegou ao país o barco Sonar, que foi usado pela equipe brasileira nas Paraolimpíadas de Pequim, e que será usado para treinamento dos atletas que participarão das Paraolimpíadas de 2012.

Com o apoio do CPB, a Vela paralímpica vem tendo um crescimento exponencial, tendo a equipe da CBVA conseguido a vitória de representar o país nas Paraolimpíadas de Pequim, com os atletas cariocas Luiz Faria, Darke de Matos e Rossano Leitão.

Pessoas com deficiência locomotora ou visual podem competir na modalidade. A Vela paralímpica segue as regras da Federação Internacional de Iatismo (ISAF) com algumas adaptações feitas pela Federação Internacional de Iatismo para Deficientes (IFDS). Três tipos de barco são utilizados nas competições paralímpicas: o barco da classe 2.4mR tripulado por um único atleta; o barco da classe Sonar, com 3 atletas; e o barco SKUD-18 para 2 tripulantes paraplégicos, sendo obrigatoriamente 1 tripulante feminino.

As competições, denominadas de “regatas”, são percursos sinalizados com bóias, feitas de acordo com as condições climáticas, de forma que o atleta teste todo seu conhecimento de velejador. Barcos com juízes credenciados pela ISAF fiscalizam o percurso, podendo o atleta ser penalizado com pontos, caso infrinja alguma regra. Uma competição é composta de várias regatas, ganhando o evento aquele que tiver melhor resultado, após a somatória de todos as suas colocações nas regatas.

A vela é maravilhosa em dias sem vento, pra você curtir a paisagem, conversar (se tem alguém junto) e pensar na vida. Mas dá o maior trabalho pra sair do lugar. Você tem que ficar atrás do vento, cambando e cuidando pra vela não panejar (falei grego de novo, ou hebraico dessa vez?). Legal mesmo é quando tem aquele ventão.

Mas, independente de como seja, amigos e amigas cadeirudos, eu indico! Tentem! Mas vão com quem manja, pra não passar apuros. E pros andantes que tiverem a chance, tentem também! Vale muito a pena!”