Na verdade, eu nem sei como começar esse post! De verdade! Tá tudo um turbilhão na minha cabeça, de frases, de sensações, de tudo.
A história dele começa quando eu descobri, um pouco depois do acidente, que existia handbike. Um monte de gente me prometeu ajudar a conseguir uma, mas nada acontecia de verdade, porque uma hand não surge das profundezas do oceano do nada. Até que teve um momento que eu pensei “tá, a handbike é só um sonho. Deixa ele aí quieto um pouco.” E o tempo passou!
No fim de abril, como vocês devem ter lido aqui no blog, eu fiz a Meia
que nem tem escolha: azul, da cor do céu, do mar, do meu edredom, da minha cadeira de rodas…
Acordei e nem queria sair da cama. 5h30 da manhã tava frio e nublado. O Paulo me pegou 6h30, pra largada 7h15, pra eu passar o mínimo de frio possível la parada no Ibira, e correr o menor risco de sentir dor. Tomei 300 remédios da dor antes da prova, pra prevenir. Tinha tanta roupa que os braços mal mexiam.
Chegamos no ibira e…kd as hands? O moço que ia trazer, o Dinho da Handventus (nosso Mago design das handbikes), se perdeu no meio daquelas ruas fechadas pra prova (nós também nos perdemos). 10 minutos antes da largada começou a chover! Eu só pensava “jura mesmo que eu viajei tudo isso, acordei cedo e to congelada pra ficar debaixo da marquise?” . Aí, a Fer chegou do meu lado e perguntou “quer deixar pra la?” Eu só respondi pra ela o que eu tinha acabado de pensar. A Fer saiu correndo pra ajudar o Dinho a montar as hands.
Deram a largada, Paulo e eu sem as hands, Pedro sem o triciclo. Eita nóis. Se não corrêssemos, não poderíamos mais correr (com o perdão da brincadeira). Íamos voar pro tapete, quando a Fer surgiu com a minha hand. Força tarefa pra eu subir no meu cavalo alado e voar pro pórtico de largada. Força tarefa pra me descer da calçada, os moços do tapete desesperados pra gente passar. O Paulo viria atrás com a hand dele (mas não o vi mais, porque o pneu dele furou com os poucos buracos do percurso..sem comentários).
Partimos! A emoção era tanta, meu coração vibrava mais que bateria de escola de samba no desfile das campeãs. Eu não sabia se ria ou chorava enquanto pedalava. Mas eu mal sabia mexer nas marchas. Como diriam: “qué dizê”, eu não sabia mexer nas marchas! A hand tava pesada demais na reta e eu achei estranho. E como eu tenho excesso de coordenação motora, eu descobri como deixá-la mais pesada. Mais leve, nada. Fiz 2km assim, meio que na empolgação, no desespero, com o Erivaldo (do Klabhia) me ajudando na subidinha, enquanto eu estava bem perdida ali.
Finalmente, por um milagre, eu descobri como diminuir a marcha. Calma gente, não demorei porque sou Kinder Ovo! Demorei porque as marchas e o freio foram colocados do meu lado esquerdo, o meu lado bobo. A minha mão é bem mais fraca ali. Então, eu tinha que ficar tentando mudar com a mão direita, enquanto eu olhava pros buracos, enquanto eu tentava não atropelar outros corredores, enquanto eu pedalava, enquanto eu conversava com o Erivaldo, enquanto eu sorria e agradecia as pessoas que me gritavam pra dar força no percurso. Mas deu certo.
Pra não ficar chato, narrando km por km, eu vou tentar resumir o luxo radioso de sensações, como diria Arnaldo Antunes declamando Eça de Queiroz em “Amor I love you”.
Eu estava muito emocionada mesmo. E a cada km eu encontrava mais e mais gente que eu gosto. A Fer me achou no meio da corrida, junto com o Dinho, que tentaram arrumar meu corpinho na hand. Mas tem tanto ajuste pra ser feito nela (porque eu sou meia porção, mas o Dinho não sabia que ainda vinha faltando pedaço) que eu achei melhor ficar como estava. As pessoas que eu conheço gritavam pra me dar força.
Nas curvas, capítulo a parte! O Erivaldo gritava “abre bem”. Mas teve uma curva que tinha espaço pra eu abrir, mas não tinha espaço pra eu virar a hand e voltar. Resultado? Ultrapassei a barreira de cones e brequei bruscamente (e já não sobrou dedo depois disso) em cima dos carros que estavam no trânsito da avenida. Fui salva pelo Erivaldo, que deu ré puxando a hand e me ajudando a virar.
Tinha km que eu ria, tinha km q eu chorava, mas não podia exagerar, porque nem tinha como secar as lágrimas. Mil coisas foram passando na minha cabeça, como um filme, enquanto eu corria (de novo! Isso aconteceu na Meia da Corpore em abril). Mas agora tinha a ver com todas as pessoas maravilhosas que estavam me ajudando, como elas entraram na vida, como elas entraram no meu coração, como cada uma estava presente no meu dia a dia e como elas foram incríveis em fazer isso por mim. Poderiam ter escolhido qualquer outra pessoa. E eu tinha que fazer jus a tudo isso, em retribuição.
Muitas pessoa
A Fer me achou de novo no finalzinho e me deu muito gás e felicidade ver a minha amiga linda ali e saber que por causa dela e do Itimura (dois anjos sem asas), eu estaria ali, pertinho do meu sonho de correr com os pés de novo, mas correndo como eu posso agora.
E eu passei a linha de chegada! Mais uma! Uma das mais emocionantes! Numa corrida que tinha tudo pra dar errado e deu tudo certo, porque eu corri com e graças a pessoas maravilhosas e especiais. Tirei as luvas. Os dedos da mão esquerda tremiam sem parar e doíam muito. Mas o sorriso não saía do rosto.
Ah, querem saber meus outros presentes além da handbike? A Fer me deu um capacete lindo (o que eu usei hoje).O outro? Lembram da foto que postei no Insta, falando que eu não conseguia usar o kettlebel da academia porque tinha 8kg? Então, o Paulo Cesar, junto com amigos dele (que eu não conheço) me deram um kettlebel de 6kg! Lindo! Vou postar a foto no Insta!! Paulo e meninos, muito obrigada!!
Mas os maiores presentes que eu poderia querer são meus amigos. Desde meu acidente, eu fortaleci amizades e ganhei tantos amigos, mais do que muita gente poderia querer. E através deles, só coisa boa aconteceu na minha vida! Coisas materiais que eu e minha família nunca conseguiríamos prover. E coisas que o dinheiro não pode comprar, muitas coisas! Muitas delas que eu recebi aos montes hoje. E só posso dizer OBRIGADA!