Dani Nobile

Adidas Boost Endless – um sonho que quase virou pesadelo

Ainda estou digerindo tudo me aconteceu domingo!rs  Juro! Essa corrida foi boa demais, mas também foi um misto de sentimentos, devido ao desafio +1km! Vou contar o motivo!

Primeiro, vou falar sobre a prova em si! Pra quem nunca ouviu falar, o desafio Adidas Boost Endless consiste em algo que eu chamo de “3 corridas em 1”. Primeiro você corre 10km. Descansa (cerca de 30minutos) e corre mais 5km. Os tempos dessas duas distâncias são somados. Os 100 homens mais rápidos e as 50 mulheres mais rápidas disputam um tiro de 1km.

Quem me conhece sabe que sou louca por coisas diferentes e virei a louca das inscrições. E quando soube da prova, eu queria fazê-la. A lógica seria fazer em São Paulo, bem mais perto da minha cidade. Porém, o percurso não favoreceria muito a cadeira/handbike. Então, optei por fazer no Rio de Janeiro. A prova no Aterro seria delícia e eu poderia correr de novo no Rio depois de 2 anos!

Cheguei na sexta-feira pra retirar o kit e fui super bem recebida na loja da Adidas, tanto pelo pessoal da empresa quanto pelo pessoal da Latin, empresa organizadora. Sábado, por um milagre, eu deixei tudo separado, roupa, tênis, número de peito…não deixei nada pra última hora.

Porém, meu medo de perder a prova começou no domingo de manhã, quando um acidente fez com que a via que escolhemos (por ser mais rápida) pra chegar até a prova estivesse bloqueada. Tivemos que dar a maior volta pra conseguir chegar lá (eu estava hospedada na casa da Dani, do outro lado da cidade). O Paulo, meu amigo-anjo, teve que ter a maior paciência comigo, toda desesperada dentro do carro. (Pra quem  não viu no instagram, o Paulo é amigo de um amigo. Ele não me conhecia e anulou sábado à noite e domingo de manhã, só pra me levar na corrida, me ajudando a transportar a handbike). E sim, quase perdi a largada mesmo! O staff pelo caminho não sabia nos informar nada e não nos deixava passar com o carro pra descarregar a hand, apesar de eu ter sido autorizada por um moço da Latin, na sexta-feira.

 

Cheguei na largada  faltando 10 minutos, mas sem o chip. Enquanto o Paulo corria pra pegar o chip, eu tentava convencer o pessoal da organização a me ajudar a posicionar a hand, que daria tempo. Mas, acharam melhor eu largar por último. Correria total, a roda da frente da hand soltou e o Paulo teve o maior trabalho pra recolocar. Dois meninos (umas graças, me ajudaram o tempo todo), ajudaram o Paulo a posicionar a hand, me ajudaram a posicionar e amarrar as pernas. E lá fui eu, no desespero, sem dar tchau!

No percurso todo dos 10km, eu tive que pedir licença…tá, eu gritava pra pedir licença! Mas eu pedia por favor!!rs Fui ultrapassando vários corredores, brecando várias vezes pra não atropelar ninguém. Estava sem música, porque não deu nem tempo de colocar os fones e ligar o celular. Desesperei quando vi que a água não saía pela mangueira do camel back. A mangueira devia ter dobrado. Na correria, nem tive tempo de testar. Tive que parar duas vezes pra pegar água na prova. Bebia um pouquinho, coloca o copo aberto no colo e ia bebericando no caminho.Bebendo o que sobrou, né?! Porque a água caía todinha no meu colo hahahaha.Ainda bem que estava calor! Enfim, faltou hidratação pra mim  e eu sabia que isso me prejudicaria na prova de 5km (e talvez na de 1km, se eu fizesse).

Passei pelo pórtico dos 10km e o relógio marcava 48min. Não estava cansada e não tinha nem ideia do meu tempo, porque larguei atrás e não lembrei de olhar o relógio do pórtico quando larguei. Teria que esperar…Ai meu coração de curiosa!!rs  Qual foi minha surpresa quando o Paulo, meu amigo-anjo, estava ali, me esperando! Achei que ele fosse me deixar lá e ir embora..rs Mas não! Me acompanhou a manhã toda! Me ajudou com água, tirou fotos, ficou comigo no descanso… Optei por ficar na handbike no período entre os 10 e os 5 km. Era so comer e beber..Mas acabei saindo dela e sentando na grama, na sombra, um pouquinho, conversando com o Paulo e vendo o pessoal. Até ali, foi uma coisa meio “Buenos Aires”. To acostumada a correr em SP, cheia de amigos. E ali, no RJ, me senti como em BA enquanto esperava as meninas, sem muitos amigos por perto. Mas isso logo iria mudar.

10 minutos antes da largada dos 5km, já fui me posicionar, conforme orientação da organização. Dessa vez, largaria na frente. Ao meu lado, uma atleta deficiente visual e sua guia. A guia veio me dar oi e desejar boa prova. Olhei pra ela e disse “acho que conheço você. Você não é amiga do Vinícius (meu amigo corredor – que tá parado – do RJ)?”  Pronto! Foram sorrisos e risadas. E abraços! A Márcia lembrou de mim! E como corre essa mulher. E ela me apontou mais um corredor conhecido, que estava bem atrás de nós, na linha da largada. Largamos! No começo, fui que fui…até que ouvi um “plec” na corrente. A marcha desregulou, a corrente saiu do lugar. Foi pra marcha pesada e não voltava. Estava travada. Olhei pra frente e…subida! Era uma subida besta, que eu faria facilmente…se a marcha não tivesse quebrado…de novo!!! (eu já não sei mais o que fazer com isso).

Quase morri pra hand subir aquilo… Mas continuei pedalando…. Fui beber água e, apesar de ter testado a mangueira antes de sair, ela dobrou de novo e eu não tinha água…de novo!! Resultado? Quebrei! Óbvio! Sem água naquela calor! Mas eu tenho bons amigos que, sem saber, passaram por mim, deram oi, e isso me animou a continuar. Como o Eduardo, que me chamou, deu tchauzinho..não conseguimos tirar foto juntos, mas os fotógrafos da prova fizeram isso pra nós!…Dei meu máximo, mas chegou uma hora que os braços já não iam mais. Eu pedalava na reta parecendo que estava na subida. Gente, tem que rir pra não chorar! Nessa hora, eu resolvi pedalar do jeito que dava, curtir minha música e aquele visual maravilhoso. Eu já estava paquerando aquele céu, aquele sol e aquelas montanhas desde a prova dos 10km. Pra quem não sabe, eu e o Rio vivemos num caso de flerte e amor eterno (apesar de eu ter que dividí-lo com minha amiga Kauana). Então, naquele momento, eu não tinha nada melhor pra fazer, a não ser cantar e olhar a paisagem, fingindo que eu estava dando uma voltinha de hand pelo Aterro. Avistei a linha de chegada e quando passei por ela, meus braços caíram de cansaço!

Logo vieram o Paulo e os dois meninos do staff, me dar água, e me ajudar a passar pra cadeira. Nessa hora, toda descabelada, a corrida começou a ficar boa. Aquela sensação de endorfina, aquela coisa boa de final de prova, invadindo meu corpo. Eu, toda descabelada pelo tira e poe capacete, comecei a encontrar amigos. Primeiro foi o Rafa..aaahh, como eu queria encontrar esse homem! rsrs  Depois foi a Debora! Que surpresa boa!  Delícia abraça-la e conversar um pouquinho. Pronto! Eu já tinha ganhado o dia!

 

Daí, fui ao banheiro, comi, bebi um monte de água, passeei, fiz massagem, cumprimentei mais amigos e conhecidos. E fui olhar o telão com meu tempo. Pelas minhas contas eu tinha feito os 10km + 5km em 1h10 (mas na verdade deu menos que isso!! uhuuu) e a última das 50 mulheres que disputariam o desafio +1km fez em 1:15..ou seja, eu consegui o índice! Por que meu nome não estava lá?

Ao lado do telão tinha uma mesa com computadores e eu fui perguntar. A moça não sabia me informar nada, mas disse que procuraria alguém pra me ajudar. Enquanto eu esperava, fui convidada a dar uma entrevista, falando sobre a prova, como foi correr, parar e correr de novo, sendo cadeirante. Gente, vou falar pra vocês o que falei pro moço. Foi difícil! Foi desafio mesmo! To acostumada a correr 21km e minha segunda volta é sempre melhor que a primeira. Essa coisa de parar e correr de novo, ainda mais por ter ficado sem água, foi complicado! Só a massagem pra me salvar!rsrs  Ali no final da entrevista, encontrei a Marcia de novo, rimos, tiramos foto e ela me deu uma dica de prova pro ano que vem!

Logo, fui procurar a moça dos computadores de novo. Já tinha um rapaz me esperando. Ele me indicou a mesa de cronometragem ao lado do pórtico de largada. Cheguei la e fiz a mesma pergunta que tinha feito duas vezes antes: “Pelas minhas contas, meu nome deveria estar entre as 50 pra correr o último km. Você pode ver meu tempo, por favor? Queria saber porque meu nome não está lá”. Aí a coisa começou a ficar séria quando ouvi “vou confirmar, mas deve ser porque você é deficiente e não temos a categoria”. Oi? Gente, fervi por dentro!!! A partir do momento que não há a categoria, mas aceitaram a minha inscrição, se eu consegui o índice, eu tenho que ser aceita pra fazer a prova! Eu fui ali pra isso! Fui, treinei e me matei pra conseguir estar entre as 50. Esse era meu objetivo! Eu sabia que não haveria troféu pois não há a categoria. Mas eu fui pra estar entre as 50,a graça da prova era essa! Se eu consegui, eu queria estar lá! Fervi! O moço disse que ia chamar outro moço. Esperei, esperei e nada! O Paulo, atrás de mim o tempo todo. Olhei bem pro moço e disse, com calma de faz-de-conta (por dentro eu estava uma pilha)  “Ele vai demorar? Se ele só vier falar comigo depois da largada, vou entrar com processo contra a organização”.  Ele avistou outra pessoa de longe e disse “Vai la, que ele pode te ajudar”. Lá vou eu de novo. Pra ouvir a mesma coisa. Aí eu briguei e chorei. Disse pro moço que isso era preconceito! Só porque estou na cadeira de rodas eu não posso fazer um bom tempo? Reclamei mesmo! Eu disse a mesma coisa pra ele:  Se a organização aceitou minha inscrição, mesmo não havendo categoria, e eu consegui o índice, eu queria correr. Ele entrou e saiu da tenda mil vezes. E voltou, falou a mesma coisa. Eu repeti tudo de novo. Ele disse que não haveria premiação, pois não havia categoria. Eu disse que tudo bem. Mas que eu queria meu nome no telão e queria correr. Ele olhou pra mim com cara de dó! Disse que não ia colocar meu nome no telão, mas que se eu SÓ queria correr, eu poderia. Fiquei muito brava! Chorei de ódio e disse à ele que não queria correr por pena, mas por mérito meu, que treinei igual a todo mundo! Não é SÓ correr! Ele sabe o que a corrida significa pra mim? Aposto que ele não corre!

Enfim, me colocaram pra dentro da tenda das 50, porque estava juntando gente em volta. E veio maaaais um falar comigo. Aí veio o argumento de que era injusto eu correr, tirando a oportunidade de outra atleta, pois era injusto eu usar a handbike que é  muito mais rápida que correr com as pernas e que se não o fosse, não haveria Paralimpíadas. Eu disse à ele que se eu fosse tão rápida, teria chegado em primeiro lugar. E se fosse assim, que nem aceitassem minha inscrição. Mas se aceitaram e eu consegui fazer o tempo (beeeeem acima das primeiras colocadas), que eu queria correr sim, e não por dó, mas por mérito meu, que me esforcei igual à todo mundo.

Gente, eu já estava tão nervosa e chateada que meu corpo tava reclamando, com energia ruim de estress correndo dentro dele e pedindo uns sorrisos pra aliviar… Poxa vida!  Respirei fundo, peguei meu chip, minha camiseta (enorme pro meu tamanho) e fui me posicionar na hand. Aí, vem mais uma. Queriam que eu corresse sozinha pra não correr riscos de causar acidentes pras outras atletas. Oi? Na hora de me mandar largar atrás nos 10km e ultrapassar, no mínimo, uns 200 atletas, não pensaram nisso, não? Pedi pra largar na segunda bateria feminina e disse que esperaria as meninas saírem e eu sairia atrás. Concordaram e foi o que eu fiz.

Largamos. Eu com a hand pesada. O percurso ia 500m e voltava 500m. Eu perdi um tempão na hora de fazer a curva e já estava destruída quando faltavam uns 100m. Mas não cheguei por útimo, apesar de largar por último! Agradeci aos organizadores pela oportunidade, peguei minha medalha, bebi água, dei tchau pros meus amigos e parti, antes mesmo da premiação, pra não alugar ainda mais o Paulo, que estava comigo desde cedo. E já eram quase 11h30 da manhã.

Conversando com amigos depois da prova, pelo whatsapp, alguns foram a favor da organização, já que não tinha categoria, eu não tinha nada que querer correr. Outros foram a meu favor. Se eu tinha que ter corrido ou não, ou quem tem razão, ou se existe certo ou errado nesse caso, eu não sei.  Só sei que, entre mortos e feridos, eu adorei a prova. Como não amar, depois de toda a sensação boa que a corrida nos trás? Como não amar correr numa cidade tão linda, a minha preferida no Brasil? A organização foi impecável nos quesitos:  água gelada e  isotônico gelado durante o percurso e no pós-prova, nas 3 distâncias, mini barras de proteína e frutas no final de cada distância. Tudo à vontade. Um local com, não sei como descrever, uma garoinha fina, após retirarmos as medalhas, pra nos refrescar do calor – naquele sol, perguntei se eu poderia ficar ali pra sempre. Ofurô de gelo, massagem, tudo funcionando impecavelmente! Eu não ouvi nenhuma reclamação de nenhum corredor sobre isso. Pelo contrário! Depois do 1km, enquanto eu hidratava na sombra junto com mais 2 corredores (uma moça e um moço), estávamos justamente elogiando a Adidas e a Latin sobre isso!

Preciso agradecer o carinho com que fui tratada pelo staff, por todos que me ajudaram no “traz handbike, leva handbike, sobe na handbike, desce da handbike”, a todos que me aplaudiram, torceram, me cumprimentaram durante a prova ou no final dela. Ao Paulo, mil obrigadas por ficar comigo o domingo inteiro no sol!!

Essa prova tão diferente e tão legal, marcou minha volta às corridas no RJ. Tenho planos de voltar em breve, se o dinheiro der e os treinadores não me matarem, nem gritarem “para de fazer inscrição, Dani” hahahahahaha

Também foi minha primeira de shorts, não de calça! To tentando lidar com a temperatura comporal e uma prova nesse lugar lindo e num dia quente foi perfeito pra parar de usar legging e voltar aos shorts que eu tanto amo!

Aaaahh, querem saber meus tempos?? Ta aí :p