Dani Nobile

Wings for Life World Run

Gente, imagino que vocês estivessem loucos pra saber os detalhes da corrida e eu fiquei enrolando pra escrever! Na verdade, é tão difícil sintetizar tudo, mas eu vou tentar!

Primeiro, vou explicar o que é a Wings For Life World Run. Essa é uma corrida mundial, quando atletas de 34 países correm simultaneamente ao redor do mundo. Ela não tem linha de chegada. Na verdade, a linha de chegada persegue você (através de um carro que é o “tapete” que bem conhecemos). O percurso tem 100km, e você corre até esse carro ( que saiu 30min após a largada e anda a 30km/h)  te alcançar. Depois disso, a organização te leva até a arena, onde há as tendas de assessorias, banheiros, lanche, massagem. 100% de tudo o que foi gerado no evento vai ser revertido para a Fundação Wings for Life, que financia a pesquisa para a cura das lesões de medula. Esse foi o primeiro ano da corrida no Brasil e aconteceu em Florianópolis.

No sábado, como é de costume em qualquer corrida, fomos retirar os kits. O local da arena era lindo e quando chegamos, não havia fila.

Nessa viagem, fomos em 3 amigos: Fernanda Balster, Paulo Cesar e eu. Depois de pegarmos nossas sacolinhas e tiramos algumas fotos, um cadeirante veio nos chamar pra  “trocarmos uma ideia sobre a prova”. Quem era? Jaciel Paulino, tetracampeão da Sao Silvestre. Ele precisava trocar ideia conosco, reles cadeirantes mortais? Não! Ele é o melhor! Mas em toda sua humildade, veio nos convidar. Fizemos um grupinho, conversamos sobre a prova, demos risada.Depois, o trio parada dura (Fer, Paulo e eu) fomos almojantar, porque ainda não tinha dado tempo de fazer isso.

Nem preciso falar que eu não dormi, né?! Adrenalina pura, doida pra amanhecer o dia! Amanheceu e…Vento! E todo mundo sabe que vento e Danielle são duas coisas inversamente proporcionais. Antes de começar a prova eu parecia um urubuzão, toda de preto, cheia de blusas e casacos. Foi dada a largada do pessoal que anda e nós tínhamos que esperar 1hora pela largada dos cadeirudos. Aí, foi só festa! Fotos, risadas, zoeira, quem não se conhecia foi virando amigo…foi uma delícia! E eu já estava sem blusa de frio, no vento, arrepiando os pelos dos braços e com o meu bichinho do “ham ham”.

Explicaram que, no nosso caso, o carro não nos perseguiria. Nós iríamos atrás dele. Assim que o primeiro cadeirudo alcançasse o carro, esse parava, todos nós daríamos a volta nele e voltaríamos pra largada (nossa linha de chegada). Todo mundo gritando “corre Jaciel”, pra ele parar o carro e nós não precisarmos morrer em 20km ou mais!

Pediram pra nos posicionarmos em frente à largada! Que sensação maravilhosa! Veio a busina e todos nós saímos juntos! Depois de passarmos pelos fotógrafos, já era. Jaciel distanciou de todo mundo, na caça ao carro. Logo, Fernando Fernandes, que também usava uma cadeira esportiva de alto rendimento, abriu. Paulo e mais um moço também abriram. O resto da galera foi indo num ritmo meio parecido.

Vou confessar uma coisa feia! Mas engraçada. As meninas que me perdoem, por favor! Mas dei uma olhada nos braços delas e disse pra Fer : “Não sei se elas treinam. Elas que não vão chegar na minha frente.” Se a Aline Rocha tivesse ido, eu nem iria me esforçar tanto. Mas já que ela não foi…rs

O percurso não foi muito fácil, pois o asfalto era bem em U e não tínhamos onde andar direito pra cadeira não bater no meio fio. Era aquele sufoco de tocar a cadeira com uma mão e segurá-la com a outra. Nem no meio da rua dava pra acelerar muito. A maioria da galera passou a prova inteira costurando a rua, procurando os locais com menos desnível.

O mais legal era, quando eu passava pelos meninos, ouvir: “Ta forte, hein menina” ou “me espera”.  Sinal de que os treinos dão mesmo resultado! Musculação, tocar a cadeira na rua, tudo isso é essencial. Fui mesmo passando por alguns meninos. As meninas, eu nem via mais…

Quando eu estava feliz e contente, adivinhem! Lá vem o Jaciel voltando! Mas já??

Um pouco atrás dele veio o Fernando. E mais atrás um pouco, o Paulo, que era o terceiro colocado na prova e o primeiro que estava correndo com a cadeira do dia a dia.

Eu passei um pouco de frio na ida. E dei uma fervida na volta, porque não transpiro. E essa de “toca a cadeira com uma mão e segura com a outra” destrói os braços. Lembrei que depois da Meia Maratona da Corpore, eu não conseguia levantar os braços nem pra lavar os cabelos.

A Fer foi comigo a prova inteira, conversando, tirando fotos, pegando água…

Aí, quando eu menos esperava, lá estava a linha de chegada. Mesmo com o desnível do asfalto, tentei dar um sprint final. Só tentei! Aí, passei pela faixa, todo mundo gritou e a moça falou no microfone que eu tinha ficado em primeiro lugar. Desci do salto, gritei, coloquei a mãozinha no joelho e fiz um passinho de funk (não me julguem).

Cada um que chegava era a maior festa! Depois veio a premiação e as fotos finais. E aquela sensação de dever cumprido! De ter ido, de ter participado dessa causa tão importante pra nós, de ter dado meu máximo, de ficar feliz em ver cada um, uns que nunca tinham corrido, ali se superando.

Fomos pra arena e eu segurando meu troféuzinho como se fosse ouro. Na verdade, pra todos nós, lesados medulares, aqueles troféus (o meu, o do Jaciel, do César Miguel e da Ana Lídia) valem ouro mesmo. São o primeiro passo que o Brasil deu, no apoio à luta pela cura da lesão medular.(Brasil não é o governo, viu gente! São as empresas que ajudaram, os atletas envolvidos na organização e participação, etc)

Meu troféu não é só meu. É de todos nós, cadeirantes, que todo dia nos esforçamos pra melhorar, nem que seja um pouquinho, em todos os aspectos da nossa vida e que buscamos, incansavelmente, a cura. Trazer essa prova pro Brasil é trazer essas pesquisas pra mais perto de nós.

Meu apelo, pra variar, é que todos os cadeirantes pratiquem uma atividade física e agreguem  saúde e qualidade de vida nos seus dias. E peço que, ano que vem, estejam correndo conosco (vocês tem um ano pra se preparar). Peço também pra que mais atletas andantes participem dessa prova tão importante pra nós.

Porque não vamos parar de correr, até encontrar a cura!

 

PS -Todas as fotos do evento vocês encontrarão já já na fan page do Blog, no Facebook. É só digitar “Blog Dani Nobile” na busca.