Dani Nobile

4 anos de lesão e Retrospectiva 2016

Esse deveria ter sido o último post de 2016, mas virou o primeiro de 2017.

Quem me acompanha faz tempo sabe que, todo ano, no meu aniversário de lesão, eu faço um post grandão falando sobre o acidente e sobre os aprendizados e conquistas do ano, relacionados especificamente à fisioterapia e ao lado emocional.

Aí, esse ano, todo mundo esperou, mas não teve post. Muita gente perguntou o motivo e dei aquela escorregada, feito bagre ensaboado, e não respondia. Mas hoje, decidi contar tudim procêis.

Todo ano, no meu aniversário de lesão, eu sempre foco no que eu ganhei. Seja algum movimento quase invisível da mão, seja alguma coisa que melhorou no tronco, seja no campo da amizade, da família, do esporte. Mas eu sempre vejo o copo cheio, e foco no que eu ganhei ou no que eu mantive. Porém, esse ano, com aquela maravilhosa novidade do facebook  “Suas lembranças”, eu fiquei o mês de outubro inteirinho sendo lembrada do que eu perdi. Só recebia foto de corrida, de treino de corrida, de mais corrida e mais e mais… até a última delas, dois dias antes do acidente.

75 Bertioga-Maresias. 2 dias antes do acidente.

Aí, não teve jeito. Toda a minha fortaleza desabou! Muito se engana quem pensa que eu sou feliz 100% , que não tenho problemas, dores ou tristezas. Mas, eu sempre tentei focar nas coisas boas e não me permitia chorar ou sofrer  mais do que um ou dois dias. Esse ano, eu já comecei a chorar no fim de setembro, quando começaram a aparecer as fotos das reuniões pra Bertioga-Maresias, minha última prova em pé. Por sorte, eu estava na casa do boy e ele me ajudou a não pensar muito.

Todo ano, no meu aniversário de lesão, eu viajo pra comemorar. E geralmente eu faço alguma prova, de corrida com a handbike ou de triathlon. Esse ano, eu não tinha nenhuma. Nem dinheiro pra viajar muito longe. Pedi ao boy pra ir pra Ribeirão ficar comigo. E ele teve que me aguentar chorando do dia 20 ao dia 22. Mas eu não quis ficar sozinha. E ainda bem que não fiquei!

Chegada dos 75km Bertioga-Maresias, com as duas amigas com quem eu formei o trio de revezamento.

O que eu aprendi com tudo isso? Aquilo que eu já falo sempre, desde os primeiros dias de acidente. Falo inclusive nas minhas palestras. Tristeza e depressão não resolvem problema. Só pioram! Eu me permito chorar e sofrer, tanto pelo acidente, pelo fato de não andar mais, ou pelas minhas dores. Faz parte da vida nos sentirmos tristes. E segurar a lágrima, não botar sua tristeza pra fora, vai fazer mal pra você! Mas não deixo isso se arrastar por muitos dias. Nem fico o dia inteiro me descabelando. Chorava, conversava com ele, e a gente ia fazer outra coisa pra distrair minha cabeça. Sim, mantenha-se ocupado! Não tem aquele ditado “cabeça vazia oficina do diabo”? É exatamente isso! Se você ficar ocupado, fazendo e falando sobre outras coisas, a razão do seu problema não vai ficar incomodando o dia inteiro. E pensamentos negativos causam doenças físicas! Outra coisa é: peça ajuda. Eu falei pro boy que não ia dar conta de ficar em casa sozinha na data. E lá foi ele ficar comigo. Não é feio assumir alguma fraqueza sua e pedir ajuda. É melhor pra você, que terá alguém pra dividir sua carga. E a pessoa que te ajudar (mas tem que ser alguém que se importe com você de verdade) vai se sentir feliz por poder te ajudar a aliviar a tristeza, nem que seja segurando sua mão e te ouvindo.

“Aaaah, Dani, então seu ano de 2016 foi terrível. Você só chorou”. Té parece, meu bem! Esse ano, o aniversário de lesão foi mais pesado do que eu esperava, mas teve um tantão de coisa boa pra compensar.

Em março, eu realizei um grande sonho, que era conhecer os Estados Unidos. Eu dei aula de inglês 10 anos e nunca tinha ido pra lá. Como em março eu tinha o Panamericano de Paratriathlon, fui de mala e cuia. Pude ver a neve no Central Park, em New York, antes da prova, e pude ver o Mickey, na Disney, depois da prova. E também experimentar aquelas comidas que a gente vê os americanos comendo de café da manhã nos filmes. Coisa de gordinha…

Central Park – NY

 

Disney Magic Kingdom

 

 

Fui a primeira brasileira cadeirante a participar de uma prova de triathlon internacionall. E por que eu não fiz post sobre ela? Porque eu passei vergonha na água, meu bem! Eu nunca tinha usado uma roupa de borracha. Como meus pulmões foram comprimidos no acidente, eu tenho uma certa dificuldade pra respirar. Aí aquele trem me apertou dum tanto, que eu apavorei e deixei todo mundo apavorado. Inclusive o boy, que foi comigo em uma prova pela primeira vez. Mas, eu consegui me acalmar na metade do percurso, tirei o atraso na água, mas já tava esbaforida! Ainda não sabia mexer na hand nova, nem na cadeira, pois tinha pego as duas apenas 4 dias antes. Aí, fiz uma cagada atrás da outra.  E a verdade é que eu fiquei me punindo por isso. Fiquei meses ensaiando posts na minha cabeça, pra contar pra vocês, mas eu me punia muito pelo meu medo. E não tive coragem de compartilhar aqui. Bobeira da minha parte? Talvez. Mas eu levei bastante tempo pra aceitar meus erros na prova, que me levaram a ficar em 4º lugar na prova, 6 minutos atrás da terceira. Vendo o copo cheio? Escrevi meu nome na história do triathlon brasileiro. Fui a primeira no Panamericano e a primeira numa prova internacional. Isso ninguém me tira, né?!

Na área de transição, minutos antes da largada do Panamericano de Paratriathlon

Panamericano de Paratriahtlon – Flórida

Aaaahh, e teve o boy! Ficamos amigos por 6 meses, nos falando por telefone todo santo dia. Não foi amor à primeira vista da parte de nenhum dos dois. Mas na viagem, com a convivência, nos apaixonamos. Sou muito grata por ter alguém do meu lado que soube respeitar minha escolha no esporte e quis fazer parte disso. Ele é meu handler em todas as provas, me apoia, me acalma. E enfia todas as minhas tralhas, aquele mundaréu de roda no carro, e me leva pra treinar na rua. Sem ele eu não teria melhorado tantos meus tempos nesse ano. Fora que encontrei um companheiro pra todos os momentos da vida. Menos pra dieta! Aquele ali nasceu virado pra lua! Come, come e não engorda nunca. Mas, terei que aprender a conviver com isso pro resto da vida. Em 2017 diremos o SIM e trocaremos as alianças de mão!

21k Golden Run RJ

Wings For Life World Run – Brasília

Campeonato Brasileiro de Paratriathlon – Caraguatatuba

 

 

 

 

 

 

 

 

Dia do pedido de noivado

 

 

 

 

 

 

 

 

Quanto ao esporte, só posso reclamar de não ter conseguido mais patrocínios pra participar de mais provas. Foi um ano muito gostoso! Eu fiz minha primeira maratona. Depois de tantos anos esperando, finalmente pude gritar que sou maratonista. Foi igual? Não! Foi de handbike? Sim. Mas o importante é que eu consegui tirar isso da minha cabeça. E não satisfeita, eu fiz duas! Fiz a Maratona de Porto Alegre, em junho, e a Asics City Marathon, em julho. E deu pódio nas duas!

Feliz da vida na chegada da minha segunda maratona.

Também fui a primeira a participar do Challenge Florianópolis e fomos super bem recebidos pelo pessoal da organização. Ali, pude enfrentar meu medo do mar agitado, e consegui sair da água na frente de muita gente que anda! E fui Bicampeã Brasileira de Paratriathlon.

Outra coisa incrível foi o UB515. Formamos a equipe TriFeliz, onde o atleta Reinaldo Tubarão carregou deficientes na prova. Ele puxou Mara Gabrilli na natação, por 10km. Depois carregou a mim  na bicicleta, durante 2 dias de percurso. E no último dia,  Lipe Magela e Jonatan Silva e eu nos revezamos ao sermos empurrados na distância de 2 maratonas. Escrevemos nossos nomes também na história do Ultraman, junto com toda a equipe de apoio.

 

 

 

 

 

 

 

Junto com outras mulheres maravilhosas, fui homenageada por Gabi Manssur em sua palestra no TEDx, sobre o empoderamento da mulher através da corrida.

 

E teve palestra! Eita que eu gosto pouco de falar, né?! E quando pego no microfone, não quero soltar mais. Gosto mais de ficar ali batendo papo do que de cantar no karaokê! rsrs  Conheci pessoas maravilhosas, tantos entre os que me assistiram, como entre os que me contrataram. É sempre enriquecedor. Eu adoro quando as pessoas vem me cumprimentar no final da palestra e dividem um pouquinho da história delas comigo. Sempre aprendo. E esse ano teve até fila pra me abraçar, em Franca! Como retribuir esse carinho?

 

Dei entrevista pro rádio, pra tv. Fui capa de revista. Posei pras fotos de modelete…

“E a fisio, dona Danielle? Não teve fisio?”  Teve sim! Além dos profissionais de Ribeirão que já me atendiam, como o boy é de Porto Alegre e eu vivo no ir e vir, pude conhecer a Mel e sua equipe maravilhosa. Foi desafiador! Esses dias estávamos lembrando como eu chorei no primeiro dia, de medo de ir de cara no chão com os exercícios propostos. E hoje eu faço os mesmos exercícios com menos dificuldade (e menos medo). Aprendi a conhecer meus limites. Nem sempre é fácil encararmos nossos limites de frente e assumirmos que isso a gente não consegue fazer. Pior ainda é quando você acha que consegue e descobre que não consegue. E eu me deparei com isso várias vezes durante esse ano. Não foi fácil. Eu voltei de lá várias vezes frustrada, por ver como meu corpo está e como às vezes ele não responde. Mas, eu tento não ficar pensando só nisso. Tento não ficar pensando só no que eu não consigo fazer ainda. Tento sempre pensar que “isso eu não conseguia e agora já consigo um pouquinho”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Verdade seja dita, há 4 anos (e 2 meses) atrás, eu pensava que em 1 ano estaria andando e em 1 ano e meio já estaria correndo. E ainda to aqui, 4 anos depois, tendo a cadeira de rodas como minha fiel escudeira. Todo mundo ri quando eu to sentada no chão e peço pra alguém trazer minhas pernas. É isso que a cadeira é, uma substituição das minhas pernas pra me locomover. Amo? Não. Odeio? Também não. Encaro como algo necessário, mas que me permitiu sair da cama e continuar vivendo e sendo feliz. Já imaginou se não tivessem inventado a cadeira de rodas e eu precisasse passar o resto da vida na cama? Socorro! Um beijo pra quem inventou a cadeira! (falando nisso, não sei quem foi. Preciso dar um google).

4 anos depois, minha ideia de vida continua a mesma. Quem me lê desde sempre deve lembrar, porque eu bato sempre na mesma tecla. O plano A é e sempre será voltar a andar. Ta levando muito mais tempo do que eu imaginava. Há uns 2 anos atrás eu escrevi que tentar voltar a andar tinha deixado de ser a maratona da minha vida, e virado uma ultra. Esse ano percebo que fazer o plano A tornar-se realidade vai ser a maior Ultra já corrida na história! Dói. Cansa. Eu paro pra pegar água. O tênis desamarra. Eu paro pra desamarrar. Diminuo o ritmo na subida. Tento aproveitar o embalo da descida, mas sem descabelar, pra não sobrecarregar o joelho. Descanso quando to cansada. Diminuo e aumento meu pace, de acordo com o sol, a chuva, o vento. Troco a música. Tomo mais um gel. Jogo água na cabeça. Às vezes luto pra não quebrar. Eu só não paro. Não vou parar nunca. Tenho certeza de que vai ser a linha de chegada mais linda da minha vida! Enquanto isso, eu aproveito todas as outras linhas de chegada do meu plano B, que é ser uma grande atleta. Mas em qualquer um dos planos, eu foco em ser feliz. Em aproveitar todos os momentos de felicidade. E sorrir. Sorrir sempre! É isso que importa.