Dani Nobile

Correndo em casa – Meia Maratona de Ribeirão Preto

Foi 1 ano e meio sem correr. E quase 2 anos sem correr aqui em Ribeirão. 99% dos organizadores de prova gostam de percurso de montanha pras corrida daqui. Você só sobe e desce sem parar. Pros meus amigos expert na handbike, não sei se é possível, mas pra franga que vos fala, percursos “ladeira do Pelourinho” ainda não dá pra fazer.

Aí eu soube que o percurso da Meia Maratona de Ribeirão tinha mudado, com relação às duas primeiras edições que eu tinha feito. Mandei e-mail pra organização quase que implorando participar. Dias depois, o organizador da prova me liga, dizendo que eu poderia participar. Eu não contei nada pra ele, mas eu estava de cama, com uma gripe muito forte! Decidi por livre e espontânea pressão que não treinaria durante  a semana, pra tentar ficar boa até domingo. Na conversa, falamos sobre a estrutura da prova pros cadeirantes participarem (horário da largada, apoio, tudo mais), pois o objetivo é abrir a categoria no ano que vem.

Na sexta eu ainda estava um lixo, quando o pessoal do jornal Tribuna, que organiza a corrida, me ligou. E no sábado, lá estava eu na capa do jornal, como a primeira cadeirante a participar da Meia. Não tinha mais volta! Com gripe ou sem gripe, eu tinha que ir!

 

 

 

 

 

 

 

 

No domingo, o despertador tocou 5:30. O tempo tava nublado e eu morrendo de sono. A primeira coisa que veio na minha cabeça? “O que é que eu tenho na cabeça pra acordar a essa hora, num domingo nublado, com essa gripe?” Resposta:  um tênis no lugar do cérebro. Não tem outra explicação! Me xinguei de todos os nomes enquanto me trocava e esperava o Fávio Tropeço vir me buscar, pra carregar a hand pra mim.

Toda encapotada, levando roupa seca pra trocar, caso chovesse, lá fomos nós. Chegamos ao local da prova e, assim como na retirada do kit, a organização foi impecável! Já tinha gente me esperando. O Bruninho já ajudou o Flávio a tirar a hand do carro, já posicionou no local da largada. Fui pra tenda falar oi pra todo mundo (que saudade eu tinha disso), tive que ir ao banheiro antes da prova e já foram me caçar pra largar.

Gente, não sei se era o Fabiano (diretor da prova), o André (locutor e meu amigo) ou outra pessoa  que estava com o microfone na mão, falando de mim, falando que eu ia fazer a prova…me deu a maior tensão! Senti uma pressão mesmo. Porque eu estava mega gripada e com medo de passar mal na prova. E agora até os mais desatentos sabiam que eu ia correr… Gelei! Me posicionei na hand, a Tarine e a mãe da Ju (minha treinadora de natação) em ajudaram. Eu tava uma pilha! Devia ter tomado um pré-treino (se eu tivesse um em casa).

Larguei, e 3 segundos depois ouvi a buzina. E os corredores mais velozes começaram a passar por mim. Eu sentia a hand pesada, mas achei que fosse cansaço meu, gripe, ou sei lá. O Bruninho ia me acompanhar de bike a prova inteira. Logo, um outro ciclista se juntou a nós (não sei o nome dele. Se alguém souber, me avise!!).

O percurso é bem legal e bem fácil de fazer. Nas poucas e leves subidas do começo, eu fiz força pra caramba. Dei umas tossidas, nariz entupiu, mas eu tentei não prestar muita atenção nisso. Há uma parte que podemos correr na ciclofaixa pra evitar uma subida do viaduto. O Bruninho ia pedindo espaço pros corredores. Como a organização me deixou mesmo largar na frente, não tinha muita gente ali pra eu atropelar. Quando foi possível escolher ciclofaixa ou asfalto, eu optei pelo asfalto, pra poder ficar mais tranquila quanto à segurança dos demais. Eram 3 faixas livres na avenida, pra gente correr. Aí chegou o temido viaduto pra subir. Eu cheguei na metade, fazendo muita força. O Bruninho falou “encaixa uma marcha mais leve”, mas pelo número no trocador, aquela era a mais leve. Então, um corredor que só estava rodando, me ajudou a chegar no topo. Eu fiquei chateada por não conseguir fazer a subida sozinha. Mas, estava há 1 semana sem treinar, 3 dias de cama…achei que fosse isso. Ja já eu conto o que era. Deixa só eu comentar uma coisa…rsrs

Eu sempre odiei corridas de 2 voltas. Sempre achei uma meleca! Mas dessa vez, gostei muito, pelo fato de, quando alcançamos 10,5km, passamos ao lado do pórtico. Logo depois dali, estão as barracas das assessorias e o pessoal que já terminou os 5km. Foi muuuito legal, receber aquela energia, a galera gritando, meus amigos ali..deu um gás a mais! E eu passei nos 10,5km com o relógio do pórtico marcando 46 alto. Fiquei feliz.

Logo depois, conversando com o Bruninho, ele foi me falando pra tentar passar as marchas. E descobri que eu estava correndo com 3 marchas apenas. As mais pesadas!! Sim, o câmbio estourou antes da prova e eu não me dei conta. Por isso não conseguia subir! Creio que tenha estourado no avião, voltando de Buenos Aires (ou será que foi na ida e minha inexperiência fez com que eu não percebesse isso?). Só sei que ali eu entendi muita coisa sobre meu corpo, minha força e a olhar a handbike e entender algumas coisas.  Paramos! Sim, paramos no km 11. Bruninho e o outro ciclista tentaram arrumar a hand. Mas foi em vão. Não conseguimos. Perdi um pouco de tempo ali. Eu queria muito baixar meu tempo, mas achei que parando e arrumando a bike, eu tiraria esse atraso. Não rolou…tudo bem! Eu estava ali pra completar e pra podermos abrir a categoria no ano que vem.

Como eu sempre digo, a corrida só começa a ficar boa pra mim depois do 11. Quando chega no 13 é que eu começo a curtir. E foi assim de novo! Os sintomas da gripe diminuíram, e eu tava bem mais feliz. O ciclista anônimo ia tirando do caminho os copinhos de água e isotônico antes de eu passar. Eu tentava driblar os buracos e irregularidades do caminho. Ribeirão foi o pior asfalto que eu já corri até hoje! E olha que ali o asfalto ta novinho! O Bruninho sempre preocupado comigo, se eu queria água, ou algo. Pedi e ele guardou meus sachês de gel vazios, pra jogar no lixo depois. Conversamos a prova inteira.

No km 18 aquela subida do mal, de novo. Mas agora eu desencanei, sabendo o motivo da minha “não subida”. Bruninho me ajudou e eu estava delirando de felicidade, pois faltava pouco pra terminar. Pela primeira vez, eu desci uma ladeira sem brecar, só pra ter a sensação. Caraca, aquilo corre muito! Se eu caísse da hand eu me estabacaria com força! Quebrar todos os dentes seria o mínimo.

Contar com o apoio de professores da Companhia Athletica, que estavam no caminho, nas duas voltas, foi muito bom! E ver vários amigos no percurso, também foi maravilhoso! Alguns gritavam meu nome. E alguns corredores que eu não conhecia, me incentivaram a prova inteira. Muito obrigada a todos por tanto carinho e apoio!!

E eu avistei o pórtico! Quando fui dar o sprint final, uma corredora forte daqui, uma “sempre-no-pódio”, resolveu fazer o mesmo, correndo em zig zag, de braços abertos. Gente, juro que eu pensei que fosse atropelá-la! Foi Deus que me fez ter noção de espaço naquela hora! E também brecar em cima de outro corredor que terminou e ficou ali paradão depois do pórtico!

Vendo as fotos, depois, eu percebi que tinha duas chegadas. Então, não sei se fui de bicuda na chegada que era só pra ela. Ou se eu tinha que chegar ali mesmo! Mas como eu tenho excesso de coordenação motora, quando eu vi o povo aglomerado embaixo do pórtico, só pensei que era ali!

E eu cheguei! Só lembro da  Dani Gil e da Michele me gritando. Lembro da eficiência da Tarine, já com a minha cadeira ali, me esperando (amiga!!!!!!!!). Lembro do André trazendo o microfone e que eu agradeci a organização pela oportunidade maravilhosa de correr em casa. Aí veio o repórter e eu não lembro o que falei! Deus queira que ele edite!hahahahaha  Era sobre a corrida, claro. E eu lembro de contar algumas coisas importantes. Mas não tive tempo de raciocinar, beber água, nem pingar o remédio do nariz, muito menos de ir ao banheiro (eu tava segurando desde o 19, só pra variar. Algumas coisas já estão seguindo um padrão).

Dali pra frente foi uma alegria só. Tanta alegria que eu esqueci de pegar a medalha!hahahahaha  Uma moça da organização que correu atrás de mim, buscou e me entregou!

Além de ter meus amigos comigo, consegui rever muita gente que foi importante na minha vida no esporte. Como o Rangel, meu primeiro treinador em assessoria de corrida, lá em 2009. Também o Murilo Bredariol, um querido, um triatleta maravilhoso, dono da escola de natação onde dei as primeiras braçadas pós-acidente. Foi o primeiro cara que acreditou em mim como atleta na cadeira!

E teve até premiação, gente!!!  Força tarefa, demos um jeito e eu  subi no palco com meu treinador pra ser premiada! Ano que vem, teremos a categoria cadeirante e eu espero bombar essa prova tão deliciosa, com meus amigos sobre rodas da região. Vale muito a pena!!

Quero aproveitar esse post para agradecer demais ao Fabiano, ao José Paulo, a todos do Jornal Tribuna, a todos da organização da prova, os staffs, ao Bruninho, ao clicista, todos mesmo! Fui tratada com muito carinho e amor! Isso é um bem muito precioso e algo que marcará para sempre minha primeira corrida em Ribeirão pós-lesão!

Algumas coisas, graças a Deus não mudam! Correndo em casa, com os amigos, fui a última aluna a sair da tenda, como eu sempre fazia! Eu e algumas professoras da minha época de andante, lembrando as tantas vezes que eu ajudei a montar e desmontar aquela barraca, nas provas! Bons tempos!

Ah, falando em tempo, baixei o meu! Mesmo parando pra tentar arrumar a handbike, eu fiz meu melhor tempo em Meia Maratona:  1:34:11 !!!  To feliz pra caramba!! Treinar muito pra ser sub 1:30!! Será?

(Fotos: Alfredo Risk)