Dani Nobile

Media Maraton de Buenos Aires

Acabou! Os 90 treinos chegaram ao fim. Há algum tempo fiz o post contando sobre isso. Fer e eu fizemos, cada uma pra si, um plano de 90 treinos. O meu passaria pelo dia 3 de agosto (dia da Golden Four) e terminaria dia 7 de setembro. E finalmente, esse dia chegou!

Chegamos a Buenos Aires, Fer, Pri, Nani e eu, na quinta-feira. Na sexta, tiramos o dia pra pegar o kit e passear pela feira da corrida. O que viesse depois seria lucro. Realmente, passamos quase 5 horas lá, curtindo, tirando mil fotos, personalizando as camisetas. E eu até encontrei uma amiga aqui de Ribeirão!

 

 

Eu estava realmente preocupada com meu frio e minhas dores decorrentes dele. Choveu a noite inteira, chuviscou de manhã e estava frio na sexta-feira. Eu só pensava nesse frio todo no dia da corrida.

Sorte a nossa (mais ainda minha), sábado amanheceu um sol lindo, um dia azul. Ventava, mas tava uma delícia de dia e eu empolguei, já mais tranquila quanto ao clima do dia seguinte. Passeamos pra caramba o dia inteiro. E as meninas, pra minha sorte de ter amigas assim, não queriam me deixar tocar a cadeira de jeito nenhum, pra descansar os braços pro dia seguinte.

Eu não vou ficar contando os lugares pelos quais passamos, porque o objetivo aqui não é fazer um tour por Buenos Aires. A cidade merece um post só pra ela. Os chicos argentinos merecem 2 posts só pra eles. E o dulce de leche merece uns 5 posts ou mais! Eu enfiei  os 2 pés e as 4 rodas na jaca quando o assunto era dulce de leche. Eu simplesmente não me cansava de comer (coisa de gordinha).

Tínhamos decidido chegar ao hotel à 20h, pra descansar. Fato é que chegamos depois das 22h. Ainda tínhamos que tomar banho e eu tinha que terminar de separar as roupas pra corrida. Quem me lê ou me acompanha sabe que eu sofro de dor neuropática e frio. Eu não sabia se ia com uma calça, com duas calças, com meia-calça por baixo da calça, com blusa de frio, sem blusa de frio… Diferente de correr em SP, cujo clima eu já estou mais ou menos acostumada pra saber como me vestir pra prova (e sempre conto com ajuda das amigas que conhecem esse corpo louco das temperaturas), eu não conhecia o clima da cidade.

Pra ajudar, eu tive dor neuropática a noite inteira! 2 horas da manhã eu tava com uzói pregados no teto, fuçando no celular e tentando tomar o mínimo possível de remédios pra dor, pra não correr o risco de estar dopada no dia seguinte. Fechei os olhos e o despertador tocou. 5h! Hora de pular da cama pra correr. Decidi ir com uma calça, a camiseta de manga comprida da assessoria e um casaco fino por cima.

Eu levo minha própria hidratação por um motivo básico: não dá pra parar e pegar a água do percurso. Ou eu tenho que estacionar a hand (o que a experiência da corrida Eu Atleta mostrou que é uma péssima ideia), ou eu corro o risco de atropelar alguém que esteja servindo a água ou, pior, algum atleta. Também corro o risco de perder o controle da hand, por soltar uma das mãos quando o chão está repleto de copinhos. Então, camel back abastecido, gel, capacete, levei 2 pares de luvas (com dedos e sem dedos).

A moça que ia nos buscar, pra poder levar a hand, atrasou 15minutos que foram preciosos na hora da largada. Tivemos que fazer tudo correndo. E eu tive medo de atrasar as meninas. Elas posicionaram a hand no local indicado pelo staff (antes do tapete) e foram pra trás do tapete, pra largar. Diferente de SP, que eu tenho milhões de amigos que podem guardar a cadeira pra mim durante a corrida, tive que implorar pra organização fazê-lo. Eles não queriam, mas acabaram topando. Optei pela luva de dedos, por causa do frio. O tempo estava indecifrável pra minha inexperiência ali, mas ventava. Mesmo assim, uns 4 minutos antes da largada, eu resolvi tirar o casaco e pedi pra um moço guardar pra mim na mochilinha do camelback. O que também foi uma mão na roda (sem trocadilhos), pois isso ajudou a segurar a mangueirinha, que não me deu trabalho escapando e tentando fugir pra roda da hand, como acontecera na Golden Four.

Um atleta argentino de hand veio falar comigo antes da largada. Foi o único, apesar de estarmos em uns 10 ou mais, entre hands e cadeiras. E a hand dele dá ré! Que inveja hahahahaha

 

E sem aviso prévio, 3,2,1…a busina tocou. E eu não tinha visto, devido à correria, que o fio das marchas estava enrolado. Perdi uns 2 minutos tentando desenrolar isso, enquanto a multidão passava por mim. Pois, diferente do Brasil, não largamos antes, junto com a elite. Tudo bem, tentei manter a calma, apesar de ver a galera de cadeira indo e eu ficando. Arrumei e fui.

 

Que frio! Eu não dormi a noite inteira e estava inchada e no ápice da TPM. Meus braços doíam muito. Eu estava fazendo tanto esforço que não conseguia ter força nos dedos pra trocar as marchas. Isso foi um grande motivo de preocupação porque eu sabia que teria que fazer trocas rápidas nas subidas. E eu estava com muita dor nos braços. Então, os dedos não respondiam. Resolvi tirar a luva da mão direita, pra ver se ajudava. Ajudou, mas não resolveu.

Decidi fazer o que a Fer me falou: curtir a prova. Era minha primeira viagem pra fora do país, minha primeira prova internacional. Apesar de na véspera termos conhecido muitos pontos turísticos, o percurso é lindo e eu resolvi que iria curtir a paisagem e fazer o que dava. Regulei a marcha pra uma mais leve e comecei a olhar em volta.

Os corredores passavam por mim aplaudindo e me incentivando muito,  o tempo todo. Logo chegou a primeira subida. Posso falar um palavrão?? Pq PQ##.. Que subida era aquela?? E eu ainda não tinha aquecido, estava morrendo de dor nos braços e sono. Mas, tinha que fazer. E dessa vez eu não ia deixar a hand dar ré, como na G4. E fui. Sofrendo. Devagar. As pessoas incentivavam. Cheguei na metade e, pra ajudar, a subida fazia uma curva! Eu ri! Acho que de nervoso. Aí senti um tranco. Um corredor me deu impulso pra sair daquela curva mais rápido. Foi o que me salvou. E fui subindo o resto, devagar, até o topo. Nem acreditei quando cheguei no topo. Só pensei que pior que aquela subida, não poderia existir outra. E eu estava certa! Tinha mais umas 4 subidas, mas que eu fiz com muita facilidade. Até a subida do viaduto (não me perguntem o nome hahahahha) eu fiz tranquilamente.

O percurso tem muitas retas, mas tem muita subida disfarçada de reta. Você acha que é plano, mas encontra certa dificuldade pra fazer. Eu comecei a me sentir melhor,com menos dor nos braços, mas ainda cansada. E não encontrava as plaquinhas de sinalização pra saber onde eu estava. Elas são pequenas e ficam no alto. Descobri que já tinha passado do km 11. Comecei a tentar tirar o gel de dentro da calça. Consegui tomá-lo quase 1 km depois.

E depois do 13, veio a constatação: meu negócio é prova longa! Eu já desconfiava, Já sabia disso dentro de mim, porque meu prazer numa meia maratona é muito maior do que numa prova de 10. E minha sensação depois de um treino longo de natação nem se compara a um treino curto. Meu negócio é distância, não velocidade. Depois do 13 veio o prazer absoluto. Comecei a curtir a prova 100 vezes mais. O sol já estava mais forte e a dor nos braços diminuiu consideravelmente, pra quase zero.

E eu fui que fui, fazendo força nas subidas, procurando o espaço com menor quantidade de corredores pra descer, e gritando por passagem porque a galera lá corre meio que em zig-zag. De repente não tem ninguém na sua frente. Aí aparecem uns 2 atletas, do nada, e pulam na frente da bike. No km 17 tomei outro gel. Eu sabia que estava ingerindo bem mais líquido que na G4 e ainda não estava com vontade de ir ao banheiro. O que era um milagre. Toquei o pau, literalmente, depois do 18. Sei lá de onde saiu força. E quando eu vi a plaquinha do 19, eu realmente comecei a pedalar forte. Pau no gato, como diz minha amiga Paula.

Aí, felicidade de pobre dura pouco. Imagina de pobre aleijado. Deu vontade de ir ao banheiro. Meus dedos, que já estavam cansados, começaram a pular de espasmos, por causa da bexiga cheia. Por sorte começou a tocar uma música do ACDC que eu adoro, e eu resolvi cantar.

Durante o percurso todo fui muito aplaudida por argentinos. Mas, faltando 1,5 km pra prova terminar, formou-se um corredor de espectadores, com muita gente dos dois lados da avenida larga. E as pessoas me viam e começavam a gritar “Fuerza chica”, “va silla de ruedas”. E aplaudiam muito. Eu ria e chorava, com aquela multidão gritando  e aplaudindo e comecei a descabelar na hand, pedalando como eu nunca tinha feito. E cheia de emoção, eu vi o relógio. E passei por baixo dele com 1h34 alto. Eu nem acreditava que eu tinha feito aquele tempo.

A moça da prancheta veio anotar meu tempo (porque nosso chip é só de enfeite), e outra moça olhou pra mim e disse “Você foi a primeira”. Aí eu comecei a chorar. Queria muito algum amigo ou amiga ali pra abraçar. Mas as únicas 3 que eu tinha naquele dia, ainda estavam correndo.

Terminei a prova e o relógio marcava 18 graus. Fui cumprimentada por muitas pessoas. A organização trouxe minha cadeira, depois de um tempo. Pediram pra eu não ir embora pois teria premiação e troféu. 3 argentinos ficaram comigo por mais de 1hora, enquanto eu não via as meninas. Mexi com alguns brasileiros que passavam. Vários corredores argentinos pediram pra tirar foto comigo. Foi ótimo ficar ali, no sol, vendo a emoção das pessoas, ao concluir a prova.

Nesse meio tempo, apareceu uma atleta cadeirante. Acenei e ela veio. Achei que fosse querer conversar. Mas o “oi” deu lugar a “Você é a brasileira?”. Eu disse que sim. Ela disse “Disseram que a brasileira chegou primeiro.” Fui responder e recebi uma cortada “Só vim aqui pra olhar a sua cara”. Eu fiquei sem reação.

Logo, a Pri apareceu. Fui ao banheiro e a Nani também apareceu. Estava nos procurando há mais de meia hora. Decidimos perguntar onde seria a premiação. Seria do outro lado. E nós ainda não tínhamos encontrado a Fer. Resolvemos ir pra perto do pódio. Foi a nossa sorte, porque ela também foi pra lá.

Logo começou a premiação, mas na categoria de cadeirantes, não fui chamada. Fiquei sem entender. Um atleta amputado e o campeão dos cadeirantes (que também correu de handbike e fez a prova em incríveis 40 minutos) disseram que não seríamos premiados, porque usamos hand. Porém, o regulamento não previa a diferença no uso de equipamentos. Estava “categoria cadeirante”. Ou eles nos premiavam como primeiros, ou premiavam a diferenciação de categorias. Mas eles estavam encerrando a premiação. Fomos todos questionar, pois não havia diferenciação, proibição, nada nada no regulamento que explicasse aquilo. A organização resolveu dar, a mim e aos demais atletas que obtiveram resultado correndo de hand, um troféu. Mas não era o troféu oficial da prova. Nem ganhamos os brindes (apesar de termos visto que sobraram) dados aos demais finalistas.

Os atletas de hand disseram que não é a primeira vez que acontece isso. Na minha opinião, eles poderiam ter especificado alguma coisa no regulamento, ou mudado a premiação. Apesar da alegria de ter terminado bem, ter baixado meu tempo, e ter sido a primeira a chegar, esse rolo todo me deixou triste. Como dizemos na gíria, eu dei uma broxada. Vários atletas me enviaram mensagens, dizendo pra eu entrar em contato com a organização, e que eles me apoiarão. Quanto a isso, ainda não decidi o que fazer.

Dessa vez senti bem menos dor muscular e bem menos cansaço no pós-prova. Fui muito bem preparada pelos meus técnicos (Rodrigo e Eduardo da Fun Sports, meu personal Dola, minha coach de natação Ju Bezzon, meu nutri Hugo Comparotto).

Às meninas, eu nem tenho e nunca terei como agradecer! Pri, Nani e Fer, se não fosse por vocês, por terem me convidado pra viajar, por terem me ajudado, carregado a hand pra todo lado, por terem poupado meus braços na véspera, nada disso teria sido possível!

Exceto pelo fato da premiação, eu adorei a prova! Tudo lindo, percurso maravilhoso, muitos pontos de hidratação. Aos hermanos argentinos, só tenho a agradecer, pelo carinho, por fazer dessa a chegada mais emocionante da minha vida corrida, pelo cuidado, pelo dulce de leche e por tornar essa viagem a mais especial e inesquecível de todas!

Mi español no es muy bueno. Pero necesito hablar con los hermanos argentinos. Sólo tengo que agradecer, por el cuidado, por haceren de este el más emocionante final de la carrera en mi vida, por el afecto, por el dulce de leche y por hacer de este el viaje más especial y memorable de todos! Gracias por todo!

*Todas as fotos estarão amanhã no face e na fan page!!! E espero que os argentinos disponibilizem logo a opção de compra de fotos, não apenas visualização hahahahaha   😉