Dani Nobile

Meu primeiro treino de verdade, na pracinha

Gente, comecei a refletir esses dias e pensei “Acabei de incentivar a galera a tocar a cadeira no parque ou na pracinha, e eu mesma, só to tocando por 3 quarteirões. Tudo bem que é subida, mas…eu to tipo fake! Faça o que eu digo, porque eu não faço.”

Criei vergonha na cara e resolvi mudar isso!  Na sexta, vi no grupo do pessoal da corrida, que havia 3 tipos de percurso para o treino do dia seguinte. Conversei com um dos treinadores, o Eduardo Vicentini, e ele disse pra eu aparecer na praça, que ele ia me ajudar (pra quem conhece Ribeirão, a Praça da Bicicleta, onde a maioria das assessorias de corrida monta suas tendas e leva as turmas pra treinar).

Sábado de manhã, o Rodrigo, o meu ex-treinador de corrida, passou aqui pra me buscar e fomos. Não vou mentir pra vocês. Deu um aperto no coração estar lá, depois de 1 ano e 4 meses. Estar naquele lugar que eu tanto amava, debaixo daquela tenda, onde eu era tão feliz e sabia. Porque era dali que eu saía pra correr e era pra lá que eu voltava, toda suada e endorfinada, quando o treino acabava.

Era dia da mulher! O pessoal da Companhia Athlética tirou a foto da turma e deixou coloridas apenas as meninas da equipe, em forma de homenagem.

Meu coração de corredora ficou pequeno, vendo tanta gente correndo e eu sentadinha na cadeira. Mas, eu fui pra lá com um objetivo e queria cumpri-lo. Pois bem, o Du me passou o percurso que ele julgou bom pra eu começar. Coincidentemente, era parte do percurso que eu fazia quando corria. Mas, vamos la! Coloquei minhas luvinhas e fui.

No começo, descida. Haja mão pra frear a cadeira! Eu não podia ir pela calçada toda esburacada, então fui pela rua mesmo, bem no cantinho. Quando cheguei na rotatória da Presidente Vargas, onde fica a Cical, resolvi aproveitar a guia rebaixada deles e subir na calçada, porque ali os carros passam voando pela avenida. Lindo, a calçada bonitinha, sem buraco. O problema era? Descer! Porque quem me conhece sabe que eu sou a pata medrosa da cadeira! Eu não sei descer degrau empinada e tenho medo de descer de costas e a cadeira virar. Estava eu, a lutar contra meu próprio pavor, quando passou um casal e ficou atrás de mim pra cadeira não virar. E lá fui eu pela rua de novo, porque as calçadas ali…Socorro! Tem umas rampas que parecem a ladeira do pelourinho, e buraco, reforma de loja…Impossível. Mas no asfalto também..Nada fácil! O asfalto é feito como se fosse um arco, pra água da chuva escoar. Resultado? Próximo ao meio fio, o chão é totalmente inclinado. Duas tocadas na cadeira e seguuuura peão! Ou a cadeira bate no meio feio. Mais duas tocadas e…seguuuura de novo! Meus braços já estavam moídos e eu não estava nem na metade. Foi quando passou por mim um grupo de ciclistas e gritou “É isso aí! Força! Só fica em casa quem quer.” É isso aí! Vai bracinho! Porque eu acordei 6:30 da manhã pra terminar isso aqui.

Eu estava indo pela área reservada pros carros estacionarem. Como era cedo, não havia carros ali. Porém, no último quarteirão do meu trajeto , a área vira terceira faixa da avenida, pra quem vai virar na Fiúsa. Eu não tinha pra onde ir e continuei ali. Os carros pareciam não se importar, pois desviavam de mim, dando bom dia! Muita gente abrindo os vidros, gritando “Bom dia”, “Vai lá”, “É isso mesmo”. E buzinando.

Virei na Fiúsa e resolvi continuar pela rua, pois não havia como subir na calçada. E era uma calçada tão lisinha…  Lá fui eu, duas tocadas na cadeira e segura. Aí o pessoal começou a passar por mim correndo. Verdade seja dita, chorei. Chorei um pouco, relembrando quantas vezes passei por ali correndo, cantando sozinha loucamente, ou enquanto conversava com a Paty, ou com o Léo, ou com a mãe (a mãe do treinador), ou com outros tantos amigos, ou cruzando com outros corredores conhecidos, de outras assessorias, que vinham no sentido contrário. Engole o choro, mulher!

Umas boas tocadas de cadeira depois, a Aninha passa por mim (meia Aninha. Emagreceu muuito! Tá um arraso). Ela e outra corredora me colocam na calçada. Ô, ô, ô, alegria! alegria! (é assim a música, né?!). Meus braços felizes tocaram a cadeira por dois quarteirões enormes, mas com calçadas lindas que me permitiram avançar.

No final, encontrei a Dani e o marido dela, que me ajudaram a descer o meio fio do Colégio Santa Úrsula, que não tem rampa, mas tem uma calçada tão alta que me senti descendo o abismo. Agora, subida da pracinha. Pensei “ui”. Mas foi tão tranquilo que me admirei.

A filha da Dani, a Ananda, queria andar de patinete na praça (olha nós duas com cara de sono, quando chegamos). Ainda dei várias voltas com ela na pracinha, fazendo a subidinha feliz da vida. A Fer passou por mim numa dessas subidas e disse “Nossa, os músculos das suas costas estão muito legais quando você está fazendo esforço”. Yes!!!

Tomei uns duzentos litros de água quando terminei. E estava tão animada que ainda fui pra academia malhar. Linda ideia! Uau! Sou o Incrível Huck, estou disposta, forte. Uhum…Só de manhã. Porque à tarde e à noite meus braços, costas, tudo doía incrivelmente muito! Bíceps, tríceps, trapézio, ombros, costas, lombar, todas as partes de mim gritavam. Eu descobri todos os músculos superiores que temos. Os conhecidos e os desconhecidos pelos médicos. Tudo que eu queria era uma cartela inteira de Dorflex. Mas eu não tinha. Tomei um chá Estiquei os braços na cama, e dormi. Satisfeita. Dolorida. Feliz.