Dani Nobile

Athenas 16k e Pernas de Aluguel

Gente, é muita emoção pra um post só! Mas vou segurar as lágrimas e contar pra vcs como foi minha corrida Athenas 16k com o Pernas de Aluguel.

Pra quem acompanha o blog sabe que essa história começou ha 1 ano atrás, laaaa na Golden Four SP. No pós prova o Edu Godoy me parou pra perguntar se eu usava minha cadeira de uso diário pra correr. Eu expliquei que essas cadeiras não são  permitidas pelas organizações de prova, por motivos de segurança, mas que eu uso a handbike, que ele nunca tinha visto. Mostrei pra ele e expliquei como funciona. Mas ele me disse que uma hand nao daria pra ser usada no caso dele. O Edu é voluntário na Instituição Rainha da Paz e, inspirado na história de Dick e Rick Hoyt,  gostaria de levar as crianças do Rainha pras corridas. Mas elas precisariam ser empurradas. Então falei pra ele dos triciclos. Apresentei o Edu pra Fer Balster, falei do Itimura e da empresa que fez a minha hand e que faz os triciclos que ele precisava.

Pronto! A partir desse dia, o Pernas de Aluguel entrou definitivamente na minha vida!

Minha alegria ficou gigante quando, em outubro, o Pernas conseguiu fazer sua primeira prova. Infelizmente eu não pude estar la, mas publiquei aqui no blog uma entrevista com  o primeiro atleta cadeirante do Pernas, com a família e a equipe do Rainha. (Quer ler? Clique aqui  http://daninobile.com.br/pernas-de-aluguel/ ).

O tempo foi passando, o Pernas foi crescendo, mas eu nunca conseguia ir em nenhuma prova com eles. É logística e grana demais sair de Ribeirão com a hand pra fazer uma prova de 10km em SP. E nas provas longas deles, eu estava competindo.

Há 1 mês e meio atrás eu comecei a batalhar minha inscrição da Athenas 16k, pra poder estar com o Pernas e dar uma treinadinha pra Golden Four. Mas, eu não consegui me inscrever… Porém, nos 45 do segundo tempo, a família Pernas me presenteou com a inscrição! Isso foi na quarta-feira, pra prova ser no domingo. Pergunta se eu ia faltar. Nem morta!

E la fui eu, no sabadão, toda ansiosa pra reencontrar o Edu na rodoviária, após 1 ano! Pois é! Nos falamos todas as semanas nesse tempão, e cresceu uma amizade verdadeira nesse período. Mas só fomos nos ver nesse dia tããão especial. Eu chorei muito quando ele me disse que era o Pernas que me deu a inscrição.. Cachoeira aberta mode on já começou aqui.

De la, partimos pra casa da Vivi Bogus, que não só me hospedou, como aceitou carregar essa mala de rodinhas que voz fala, mais a minha filha gigante (a hand) pra prova. Nem preciso dizer que não dormi de ansiedade. Mais de meia noite e a doida, que tinha que acordar 4:40, tava fazendo snapchat kkkkkkk

Enfim, chegou o grande dia. E a emoção começou a vucuvuzear em mim assim que chegamos na área das tendas e vi aquele mundaréu de gente, com a blusa do Pernas. Ali no meio, ja tinha um monte de amigos meus. Itimura, Pri, Sindo e mais um montão de queridos.

Depois da reunião que o Edu faz pre-prova, três voluntários,  Marcelo e Andréa Calil  e o Daniel Arita, foram comigo e com a hand até a largada. Maaaas, porem, contudo, entretanto, todavia.. todo mundo sabe que eu não consigo fazer uma única corrida  sem emoção! Apesar de estar na tenda 45min antes da  largada, eu cheguei na largada faltando 1 min! O suporte de pé da hand tava desregulado. Só percebi quando sentei nela e minha perna pegou no pneu (de novo!!). A organização tentou atrasar a largada, mas não puderam esperar mais. Ao invés de eu largar na frente, eu larguei quase 4min depois! Imagina meu desespero! Os meninos ainda tentaram correr na minha frente, abrindo caminho. e tava bem devagar, porque realmente tinha muita gente e pouco espaço. Mas alguns corredores do fone de ouvido no último volume, não nos ouviam.

Depois de 1km, consegui atravessar a pista e comecei a ir do lado de quem tava voltando, bem encostadinha na fita. Logo, a elite me alcançou, mas como eu estava na contramão, eu não bati em ninguém. Desviei de volta pra pista da ida, pra passar no tapete de cronometragem e voltei pra contramão. Quando o fluxo diminuiu, porque o pessoal dos 8k começou a voltar, eu entrei na pista certa e ja havia bem pouca gente na minha frente.

Verdade seja dita, eu tive que parar uma vez pra puxar a mangueirinha do camelback, que ficara presa. E parei mais duas vezes pra arrumar meu pé, que caiu quando passei em buraco. Numa dessas vezes, o staff veio correndo pra ver se eu estava bem. Por isso eu adoro provas da Iguana! Eles realmente tem um staff excelente!

Comecei a voltar. O percurso é bem tranquilo. Poucas e leves subidas e vários falsos planos. Eu fui pra fazer tempo, mas a largada não me permitiu fazer como eu queria. Mas pula essa parte, gente! Na volta, eu já comecei a procurar o pelotão do Pernas, que estava indo. O combinado era eu fazer a minha prova e voltar pra terminar a deles com eles. Minha emoção foi gigantesca, quando vi aquele enorme grupo de corredores (mais de 50) e 7 cadeirantes, que estavam num posto de hidratação, me gritando e me aplaudindo. Nossa, chorei muito naquela hora!

Também tive apoio de muuuitos corredores, amigos e desconhecidos, que me gritavam, batiam palma. Eu amo demais a corrida! Os últimos 4km foram tensos, pois encontrei novamente a multidão dos 8k. E novamente, eu comecei a correr por fora da fita, na contramão de quem ia (mais ninguém!), pra não correr o risco de atropelar nenhum atleta. Engraçado é que, antes de eu passar pro outro lado da fita, tinha um atleta correndo muuuuito. Fizemos uns 2 km juntos. Quando chegou uma subidinha, eu diminuí, e ele ia na minha frente, pedindo passagem pras pessoas que estavam andando. Acredita que fomos xingados?! Juro! Quase surtei!

Quando terminei os 16k, em 52minutos (tempo oficial no site da prova), tive que passar pela dispersão.  Fui a primeira cadeirante a terminar a prova, mas não tece pódio pra nós! Peguei minha medalha e voltei pra largada, por fora. O pessoal da organização pediu pra eu aguardar um pouco, pois havia muita gente chegando e eles não queriam ver nenhum acidente. Passados 40min, me liberaram pra voltar e encontrar o Pernas. Assim, fui na contramão de quem ia terminar a prova. Vários corredores me gritavam ” mas vai fazer de novo?”  rsrsrs

De repente, lá pelo km 4, eis que eu me debulho em lágrimas, vendo aquele grupo enorme vindo na minha direção! Mais de 50 atletas, 7 cadeirantes e um carrinho de bebê com nossa mascotinha Lully gritando “Vai Pernas”. Gente, foi demais! Pensar que há menos de um ano atrás, era só um sonho do Edu! Passei por trás deles pra fazer a curva e retornar. E comecei a acompanhá-los, cada hora ao lado de uma pessoa diferente, conversando com todo mundo e vendo a alegria dos cadeirantes. Foram momentos mágicos!

No último km, a tradição é parar pra tirar uma foto. E pra juntar todo mundo ali?  Fechamos a marginal! Depois, partimos pro último km, todos se ajudando, dividindo água e isotônico. Os batedores iam à frente, pra avisar sobre buracos na pista e avisar os demais corredores que lá vínhamos nós.

Faltando 50m pra chegada, as palmas altas começaram, e alguns cadeirantes, que conseguem caminhar com apoio, levantaram de seus triciclos e começaram a dar passos lentos, porém firmes e alegres, pra cruzar a linha de chegada. E eu de trás, olhando tudo da hand. Olhando a emoção dos pais, a emoção de quem assistia, a emoção do staff nos vendo chegar. Gente, foi lindo demais. É nessa hora que os ninjas invisíveis começam a descascar cebolas perto dos nossos olhos.  Espero, um dia, poder cruzar a linha de chegada assim com eles!

Terminada a prova e a emocionante entrega de medalhas, rola uma força tarefa pra atravessar a marginal e ir pra tenda da AP academia, que acolhe e ajuda o Pernas em todas as provas. Lá, ia ter outra surpresa! O Marco é pai do Marquinhos. Eles tem ido à várias provas com o Pernas, usando triciclos emprestados. E após a Athenas 21k, foi dia de o Pernas de Aluguel presentear pai e filho com o próprio triciclo deles! Aí foi emoção que não acabava mais! Veio ninja, veio samurai, veio China, Japão e Coreia inteiros descascar cebola perto dos nossos olhos.

Eu e o Edu nos emocionamos muito após a prova, por finalmente podermos correr todos juntos, pela primeira vez. Foi muito incrível! Indescritível! É assim uma corrida com o Pernas de Aluguel. Muita festa, muita risada, superação, amor, companheirismo, cuidado com o próximo. O Pernas já virou uma família. E eu sinto muito orgulho por fazer parte dela!

Se você quiser alugar suas pernas, ou doar para a aquisição de novos triciclos e pro transporte dos cadeirantes até as corridas, entre no site do Pernas e cadastre-se! http://pernasdealuguel.com.br/