Dani Nobile

Minha Primeira e Sétima Meia Maratona

Essa semana eu to cheia de coisas pra contar pra vocês! Mas a primeira tinha que ser essa!

Todo mundo sabe que eu amo correr, que ta no meu sangue, que ta no meu cérebro, que ta no meu coração, que eu respiro (e gostaria de transpirar também) isso. Mas, não posso correr mais do jeito que eu sempre gostei e gosto! Porém, nem tudo está perdido!

Fui pra São Paulo essa semana, pra participar da Reatech. Eis que sexta à noite, minha mãe japa, Marina Kuriki, me manda um whatsapp assim: “Vai ter a Meia da Corpore domingo. Você não quer ir ver o pessoal? Dá pra fazer os 5km de cadeira.”  A minha cadeira não passa nas portas do apt da Má. Ela acionou outro amigo nosso, o Michel Honda (que me ajuda e me apoia tanto!) e ele imediatamente disse que me hospedaria. Nossa! Que vontade de estar lá na corrida! Porém, no mesmo instante, lembrei que não podia ir com a minha cadeira. Depois de alguns acidentes, as organizações das provas não permitem mais cadeiras do dia a dia em provas. Apenas cadeiras de atletismo e handbikes são permitidas. Além, disso, eu não tinha nem roupa! Só tinha trazido uma legging preta (uniforme oficial das cadeirantes). Mas a Marina disse que ia me emprestar tudo! Camiseta, top, tênis, meia, tudo!

Caramba! Eu tinha 24horas pra conseguir uma handbike! Mandei um post desesperado no sábado de manhã, no facebook, tentando conseguir uma hand emprestada. Alguns amigos indicaram amigos, mas nada de eu conseguir uma. E eu estava na Reatech o dia todinho, caçando gente que poderia ter e que não usaria no domingo. A feira encerrava 19h e nada! Mas, eu tenho um amigo porreta, o Sidney Mayeda, que tem uma hand de passeio. É uma adaptação que ele prende na cadeira de rodas normal, mas ele usa uma esportiva (daquelas de basquete), que é mais leve. Tudo junto, pesa 21kg! Ele usa essa bike pra se exercitar no parque  e estava com ela na Reatech, incentivando a galera a se exercitar também. No mesmo momento que eu pedi, ele disse : “Claro Dani, pode levar.” Meus olhos encheram de lágrimas. Eu nem acreditava que eu ia conseguir! Bom, se eu consegui a hand, eu não ia correr os 5km. Eu ia pros 21km!

A Marina foi me buscar, colocou a hand do Sidão no carro, a minha cadeira, mala e cuia no carro dela, e partimos pra casa do Michel. Aí começou o problema número 1 – começou a cair o maior pé d’água do Brasil. Eu achei que a chuva fosse arrastar o carro na rua. Respira, chegamos no Michel. Jantamos (ele fez um yakissoba caseiro maraviwonderful e pediu pizza), rimos, conversamos. E a chuva não parava nunca mais. A Má foi embora e eu fui pra cama. Mas não conseguia dormir. Problema número 2 – eu estava mortinha de cansada e nada de pregar “uzói”! Mas fiquei orando, pedindo pra Deus (e pra todo mundo que me chamava no whatsapp eu também pedia pra orar) praquela chuva toda parar de chover até de manhã. Fiquei monitorando a chuva até 2h da madruga, agitada. Eu não dormia de jeito nenhum! Estava ansiosa pela prova! Dormi. O despertador tocou 4:40. Ou seja, não dormi nadica de nadéx! Mas, parou de chover! Problema 1 resolvido. Problema 2…deixa pra lá!

Com um olho aberto e outro fechando, abri a bolsa com as roupas da Marina. Coincidentemente, ela me emprestou a camiseta da Maratona de Revezamento Pão de Açucar de 2012. A última prova que eu tinha corrido em SP! E me trouxe um tênis Asics. Eu sempre quis testar um Asics pra ver se era mais confortável que o Mizuno (que eu usava pra correr). Agora estava com um Asics no pé, mas não sabia se era melhor pra correr. Nem saberia, por motivos óbvios! Me troquei, juntei as tralhas. Michel já tinha feito meu café e a Marina já estava lá me esperando. Partimos pra USP. Quando chegamos, meu coração já acelerou, de ver tanta gente ali, pra correr. Lembrei da última vez que estive ali pra uma largada, na Fila Night Run de 2009. E na última vez que passei por ali correndo, quando fiz os 25km na Maratona de SP em 2011.

O moço nos guiou para o local dos cadeirantes estacionarem. Só handbikes top de competição. Descemos do carro, a Má montou a hand do Sidão. Quando desci do carro, um senhor de aproximou, perguntando quantos km eu iria fazer. A Má disse que eram 21. Ele respondeu “Se é a primeira vez dela, e com essa bike, melhor ir pros 5km.” Mas ele não me conhece! Perguntei o nome dele, pois estava com a camiseta da Achilles. Era o senhor Rollo, com quem eu tento falar desde que a Dri, minha amiga corredora aqui de Ribeirão, me falou da Achilles. Ele lamentou não termos conseguido falar antes, me deu um cartão e ofereceu suporte durante a prova. Também me deu um número de peito, pois eu não tinha (ia usar o da Marina e ela ia correr de pipoca).

Partimos pra tenda e, começamos a ver os amigos. Que delícia estar ali, no meio dos amigos. Vi a Drika (cabeça), a Claudinha ( a “papa-pódios” rs), que eu só tinha visto em Maresias, na minha última prova “andando”.E vi mais um monte de gente legal, que eu só conhecia pelo face.

Fomos pra largada, pois a dos cadeirantes seria 15minutos antes. Notei que no km 13, passaríamos por ali. Pensei “Se eu estiver morrendo, eu paro no 13.” Mas isso não estava muito nos planos.  Seria só no caso de eu estar desmaiando, tendo um colapso, tendo disreflexia, ou morrendo mesmo.

Lá estava eu, na largada com a galera da handbike. Eu estava morrendo de vergonha, pois eu era uma estranha no ninho. E também era a única com uma handbike de passeio.  E sem nenhum equipamento também! Mas tudo bem. Eu sabia que iria demorar muito mais pra completar a prova (estava com uma bike que pesava 21kg e eles com bikes que pesam menos de 14kg). Comentei com a Marina sobre isso e ela disse algo que me fez chorar: “O que importa é que você está aqui, no seu lugar! Aqui é seu lugar! E do nosso lado.” Sim, ali era meu lugar: numa corrida! E eu não estava ali pra competir, mas pra completar a prova.  A Claudia, mãe da Bia, uma querida,  se ofereceu pra me ajudar e disse que a turma dela, da Klabhia Running, me ajudaria também! Apareceram também voluntários da Corpore.

Largamos! A turma da handbike sumiu em 2 minutos! A Marina do meu lado, a Claudia e a Bia também, além da Laila e da família dela. Primeiro, a Má e o Roberto Itimura começaram a me ajudar, porque a hand era muito pesada! No segundo km, o pai da Laila engatou um guarda-chuvas atrás da minha cadeira, pra facilitar pra galera me dar uma força e não acabarem com as costas. Mas…ai meu bumbum! Tive que ficar a prova inteira indo um pouquinho pra cá e um pouquinho pra lá, com medo de que o guarda-chuvas fizesse pressão e abrisse uma escara.

No primeiro km, algumas pessoas começaram a gritar “vai” , “isso mesmo”. E eu toda distraída, conversando. Até que a Má e meus amigos começaram a responder. Aí eu saquei que aquilo era pra mim! Que bestinha! O povo deve ter achado que eu sou grossa, porque não respondi.

Bom, se eu contar tudo que aconteceu, km por km, vocês vão enjoar. Então, vou tentar resumir, gente! Lá pelo km 3 ou 4, eu acho, a Má foi descansar um pouco! Afinal, semana passada ela fez 42km de montanha, na Maratona do Fim do Mundo.

No km 5, eu pensei “bom, sem ajuda da galera, eu teria que parar aqui. Mas vambora! Não to sozinha. ”

No km 10, assim que passamos a placa, eu dei uma chorada. Mas ninguém viu! Ainda bem…rs  Foi aqui também que começou meu maior problema na prova! Eu sabia que eu não conseguiria parar durante a prova pra ir ao banheiro. Então, eu estava regulando a água ao máximo, pra não sentir vontade de fazer xixi. Estava bebendo pouco mesmo! Tinha pontos de água que eu nem dava um golinho. Mas, todo km 10 numa meia maratona, vira meu km do mal! Quando eu corria, era aqui que meu joelho acordava e começava a doer. Mas, aqui, minha bexiga começou a dar sinais de que precisaria ser esvaziada. Além disso, eu não forço o joelho. Mas o trapézio! Corpo, você não me dá uma folga, hein?! Fala sério! Ta querendo me boicotar?

Fui controlando a água durante a prova. As pessoas que passavam, me davam muita força! Teve um moço (lindo maravilhoso), correndo com um amigo, que passou por mim lá pelo km 16 e disse “Quando estamos cansados e pensamos em desistir, a gente vê uma menina dessa e sente vergonha”. Não moço! Não sinta vergonha! Corra mais rápido, já que eu não consigo. As pessoas davam bom dia, batiam palma, elogiavam, conversavam um pouquinho. Foi muito legal! O staff de prova também sempre gritava! Isso dava um ânimo pros meus bíceps não desistirem!

Tomei meu gel (presente da Má, ja que eu caí de paraquedas na prova e não levei nada) no km11, com pouca água. A Má apareceu bem nessa hora. Tirou foto e revezou um pouquinho com o Pestana, na ajuda à minha pessoa. Parou no 13km pra descansar de novo, quando chegamos nas tendas. Nessa hora, o pessoal dos 5km e das tendas, gritava muito pra me incentivar. E meus dedos, não aguentavam mais segurar o guidão da bike! Eu tenho lesão alta e meus dedos são fracos. Eles começaram a tremer aqui, enquanto eu passava pela galera da handbike que já tinha terminado a prova. Perguntei pro Pestana quanto tempo tínhamos de prova. Fiz as contas. Se continuássemos nessa média de velocidade, eu acabaria minha primeira Meia na cadeira com o mesmo tempo da minha primeira Meia andando. Vai bracinho, vai bracinho!

No km 15, dei mais uma choradinha. Lembrei da minha primeira Meia, no Rio, quando eu passei debaixo dessa placa. Aliás, todas as minhas outras 6 meias maratonas, foram passando como um filme. E vários treinos também. E as dores nos joelhos, os sacos de gelo, os amigos, as medalhas, as tentativas de baixar o tempo. E agora, eu tinha é que terminar essa meia. Esse desafio. Aqui meus trapézios já estavam adormecidos. Meus bíceps também. Eu nem sentia mais dor. Só nos dedos (agora está difícil pra digitar).

Nas subidas da prova eu sofria. E o Pestana também, pra me empurrar. Nas descidas, eu tinha que frear muito, ou capotava. E capotamentos não me trazem muita sorte!rsrs  Melhor não!

No km 18, meu xixi do mal queria sair. Até pensei em fazer ali mesmo. Tantos corredores fazem no meio da prova. Mas eu iria molhar o forro da almofada. E da corrida, eu iria pra Reatech. Daria tempo de lavar o forro, mas ele não iria secar. Ainda mais num dia sem sol! Eu teria que segurar. Comecei a ter disreflexia, muitos espasmos por estar segurando o xixi. Queria tomar mais água, mas isso me daria mais vontade de fazer xixi. E as pontas dos meus dedos já estavam adormecidas de segurar o guidão. Mas se eu soltasse, seria tombo na certa!

Eu fui a prova inteira com o pessoal da Klabhia (às vezes eu dava uma adiantadinha, às vezes elas me passavam, às vezes íamos juntas) a prova inteira! E eu tenho muito a agradecer a esse time e grupo de amigos! Especialmente depois do km 18, quando eu já estava no pau da goiaba e eles ali do meu lado. – agora tem foto!!! – 

 

O Marcos Pestana foi meu anjo durante a prova inteira. Eu pedalei os 21km na bike de 21kg, mas ele me empurrou 90% do percurso! Sem ele, eu não teria conseguido! Ele é voluntário da Corpore. Algumas pessoas, também me empurraram, pra revezar com ele. Gente que eu nem conheço! E que sem eles eu não teria conseguido!

No km 19 apareceu a Má! Eu disse que estava com dor e passando mal por causa do xixi, mas que iria terminar, e ela comigo ali, me dando força. Vi a placa do km 20 e com ela, vários amigos que passaram por mim durante a prova e eu disse “Me espera na chegada”, mas como disse a Eliane Lilika “Viemos te buscar”. Ela levou o filho, a Ilzinha…Como é bom ter amigos, que foram aparecendo nesse final. E a placa do km 20 me deu uma força fora do normal! Só faltava 1!

O Pestana falou “Vamos dar um sprint”. Nem sei de onde ele e eu tiramos forças! E meus amigos juntos com a gente. Foi quando a Lilika disse “Dani, olha o pórtico de chegada”. Eu vi! E eu fui! Quando faltavam alguns metros, já comecei a chorar!

As fotos da chegada não tem glamour, só umas caretas de choro sem fim. Eu nem acreditava que isso estava acontecendo! Eu só conseguia chorar e abraçar a Marina. Eu chorava muito! A ideia de participar da corrida foi dela! E quando eu falei de fazer os 21km, ela não tentou me dissuadir em nenhum momento. Pelo contrário. Cansada da maratona da montanha, ela só tentava encontrar alguém pra me ajudar. E apareceu o Pestana, que eu só abraçava e agradecia, porque eu chorava tanto que não conseguia falar.

Quem falou foi minha bexiga! Atrás dos enfermeiros da chegada, a Má viu um banheiro. Desmontaram a hand.  A galera me carregou pra porta do banheiro químico, a Ma limpou e forrou o banheiro e eu…desabei! Pouca água, pouca reposição durante a prova, poucas horas de sono à noite e muita emoção = minha pressão caiu! Eu não desmaiei, mas foi por pouco! Eu parei na hora que percebi o trem feder. Aí eu bebi 200litros de água e isotônico.  E comia feito um dragão. O Pestana me deu mel, a marina uma barrinha de frutas. Eu disse que queria o torrone e alguém (foi uma amiga, eu tava bem pra lá de Bagdá. Não lembro quem foi) me deu um pequenininho. Um enfermeiro veio com uns aparelhos e disse que os batimentos e a saturação estavam boas, mas depois do banheiro, era pra me levar até ele. Sim gente, eu sou tão glamurosa, que tudo aconteceu na porta do banheiro químico, com o vaso todo forrado de papel! Um arraso! Melhorei e, ao contrário do que eu pensava (que de segurar tanto o xixi, eu ia demorar mil anos pra uretra e a bexiga pararem de contrair de espasmos), eu não demorei nem 5segundos.

Ali fora, já tinha vários amigos pra me cumprimentar. Saí do banheiro, o enfermeiro veio e eu disse que já estava bem. Todo mundo perguntou se eu precisava de algo e eu disse “Sim! Eu quero a minha medalha.” Todo mundo riu do ser quase tendo um treco e só pensar na medalha.

Mas, eu não tinha chip! Quando a moça da medalha perguntou, eu disse que perdi. O Pestana disse que dava a dele pra mim, mas a moça disse “de jeito nenhum!! Pode levar!” Moça gracinha! <3  Perguntei pro Pestana o tempo: fizemos 2 minutos abaixo na minha primeira Meia.

Lá fomos nós, tirar mil fotos com tantos amigos que apareceram, o José Munhoz, a Fernanda Balster, tanta gente! E com meus anjos Marina e Pestana! obrigada ao Sidão que me emprestou a bike e me permitiu realizar esse sonho! E aos poucos que contei que ia fazer essa maluquice, e que me apoiaram incondicionalmente! Obrigada a todos que me empurraram, quem gritou e me incentivou durante a prova!

 

 

Quando as pessoas me perguntam do acidente e eu digo que corria, eu sempre falei que era Meia Maratonista. Agora não! Agora eu SOU, de novo, Meia Maratonista!